quarta-feira, 12 de março de 2014

Pais Brilhantes ... Professores Fascinantes - Augusto J. Cury



PAIS BRILHANTES, PROFESSORES FASCINANTES
AUGUSTO JORGE CURY
Sumário
Prefácio
Para Onde Caminha a Juventude
PARTE 1 - Sete Hábitos dos Bons Pais e dos Pais Brilhantes
1 • Bons pais dão presentes, pais brilhantes dão seu próprio ser
2 • Bons pais nutrem o corpo, pais brilhantes nutrem a personalidade
3 • Bons pais corrigem erros, pais brilhantes ensinam a pensar
4 • Bons pais preparam os filhos para os aplausos,pais brilhantes preparam os
filhos para os fracassos
5 • Bons pais conversam, pais brilhantes dialogam como amigos
6 • Bons pais dão informações, pais brilhantes contam histórias
7 • Bons pais dão oportunidades, pais brilhantes nunca desistem
PARTE 2 - Sete Hábitos dos Bons Professores e dos Professores Fascinantes
1 • Bons professores são eloquentes, professores fascinantes conhecem o
funcionamento da mente
2 • Bons professores possuem metodologia,professores fascinantes possuem
sensibilidade
3 • Bons professores educam a inteligência lógica, professores fascinantes
educam a emoção
4 • Bons professores usam a memória como depósito de informações,
professores fascinantes usam-na como suporte da arte de pensar
5 • Bons professores são mestres temporários, professores fascinantes são
mestres inesquecíveis
6 • Bons professores corrigem comportamentos, professores fascinantes
resolvem conflitos em sala de aula
7 • Bons professores educam para uma profissão, professores fascinantes
educam para a vida
PARTE 3 - Os Sete Pecados Capitais dos Educadores
1 • Corrigir publicamente
2 • Expressar autoridade com agressividade
3 • Ser excessivamente crítico: obstruir a infância da criança
4 • Punir quando estiver irado e colocar limites sem dar explicações
5 • Ser impaciente e desistir de educar
6 • Não cumprir com a palavra
7 • Destruir a esperança e os sonhos
PARTE 4 - Os Cinco Papéis da Memória Humana
Memória: caixa de segredos da personalidade
1 • O registro na memória é involuntário
2 • A emoção determina a qualidade do registro
3 • A memória não pode ser deletada
4 • O grau de abertura das janelas da memória depende da emoção
5 • Não existe lembrança pura
PARTE 5 - A Escola dos Nossos Sonhos
O projeto escola da vida
1 • Música ambiente em sala de aula
2 • Sentar em círculo ou em U
3 • Exposição interrogada: a arte da interrogação
4 • Exposição dialogada: a arte da pergunta
5 • Ser contador de histórias
6 • Humanizar o conhecimento
7 • Humanizar o professor: cruzar sua história
8 • Educar a auto-estima: elogiar antes de criticar
9 • Gerenciar os pensamentos e as emoções
10 • Participar de projetos sociais
Aplicação das técnicas do projeto escola da vida
PARTE 6 - A História da Grande Torre
Quais são os profissionais mais importantes da sociedade?
Considerações Finais
Referências Bibliográficas
Prefácio
Este livro falará ao coração dos pais e professores. Eles lutam pelo mesmo sonho -
o de tornar seus filhos e alunos felizes, saudáveis e sábios -, mas jamais estiveram
tão perdidos na árdua tarefa de educar. Ambos sulcam e cultivam os territórios mais
difíceis de serem trabalhados, os da inteligência e da emoção.
Não escrevo para heróis, mas para pessoas que sabem que educar é realizar a mais
bela e complexa arte da inteligência. Educar é acreditar na vida, mesmo que
derramemos lágrimas. Educar é ter esperança no futuro, mesmo que os jovens nos
decepcionem no presente. Educar é semear com sabedoria e colher com paciência.
Educar é ser um garimpeiro que procura os tesouros do coração.
A quem interessa este livro? Aos pais, aos professores da pré-escola, do ensino
fundamental, médio e universitário, aos psicólogos, aos profissionais de recursos
humanos, aos jovens e a todos os que desejam conhecer alguns segredos da
personalidade e almejam enriquecer suas relações sociais.
Não comentarei regras, pois, no calor dos problemas do cotidiano, elas se
evaporam. Discutirei ferramentas psicológicas que poderão promover a formação de
pensadores, educar a emoção, expandir os horizontes da inteligência e produzir
qualidade de vida.
Compartilharei minha experiência como psiquiatra, educador e cientista da
psicologia. Apesar das minhas limitações, muitas pessoas têm se encantado com as
idéias que venho apresentando em congressos nacionais e internacionais.
Chegou a hora de publicar um livro específico sobre educação, pois tenho recebido
o incentivo de milhares de psicólogos, educadores, médicos e pais para publicá-lo.
Gostaria de destacar alguém para representar as pessoas que gentilmente me
incentivam. Ele é considerado dos mais conceituados professores de comunicação e
oratória do país: Alkindar de Oliveira. Sua mensagem me comoveu. Ele me disse
que acordou de madrugada, perdeu o sono e começou a ler minhas idéias sobre
educação.
A leitura o surpreendeu. Por isso, ao amanhecer, ele me escreveu, dizendo: "Aqui
está a solução da educação no mundo. Se você só divulgar essas técnicas e não
fizer mais nada na vida, já cumpriu sua missão existencial. Sugiro que você as
publique num livro acessível, para que elas cheguem às mãos de cada escola, de
cada professor, de cada mãe, de cada pai."
Agradeço estes elogios, mas não os mereço. Entretanto, creio sinceramente que os
hábitos dos educadores e as técnicas pedagógicas que comentarei poderão
revolucionar a educação para sempre. Se praticados, poderão enriquecer a relação
entre pais e filhos, professores e alunos! A família poderá se tornar um jardim de
flores, e a sala de aula, um lugar aprazível.
Dr. Augusto Cury
Para onde caminha a juventude
Há um mundo a ser descoberto dentro de cada criança e de cada jovem. Só não
consegue descobri-lo quem está encarcerado dentro do seu próprio mundo.
Nossa geração quis dar o melhor para as crianças e os jovens. Sonhamos grandes
sonhos para eles. Procuramos dar os melhores brinquedos, roupas, passeios e
escolas. Não queríamos que eles andassem na chuva, se machucassem nas ruas,
se ferissem com os brinquedos caseiros e vivessem as dificuldades pelas quais
passamos.
Colocamos uma televisão na sala. Alguns pais, com mais recursos, colocaram uma
televisão e um computador no quarto de cada filho. Outros encheram seus filhos de
atividades, matriculando-os em cursos de inglês, computação, música.
Tiveram uma excelente intenção, só não sabiam que as crianças precisavam ter
infância, que necessitavam inventar, correr riscos, frustrar-se, ter tempo para brincar
e se encantar com a vida. Não imaginavam o quanto a criatividade, a felicidade, a
ousadia e a segurança do adulto dependiam das matrizes da memória e da energia
emocional da criança. Não compreenderam que a TV, os brinquedos
manufaturados, a Internet e o excesso de atividades obstruíam a infância dos seus
filhos.
Criamos um mundo artificial para as crianças e pagamos um preço caríssimo.
Produzimos sérias conseqüências no território da emoção, no anfiteatro dos
pensamentos e no solo da memória deles. Vejamos algumas conseqüências.
Obstruindo a inteligência das crianças e adolescentes
Esperávamos que no século XXI os jovens fossem solidários, empreendedores e
amassem a arte de pensar. Mas muitos vivem alienados, não pensam no futuro, não
têm garra e projetos de vida.
Imaginávamos que, pelo fato de aprendermos línguas na escola e vivermos
espremidos nos elevadores, no local de trabalho e nos clubes, a solidão seria
resolvida. Mas as pessoas não aprenderam a falar de si mesmas, têm medo de se
expor, vivem represadas em seu próprio mundo. Pais e filhos vivem ilhados,
raramente choram juntos e comentam sobre seus sonhos, mágoas, alegrias,
frustrações.
Na escola, a situação é pior. Professores e alunos vivem juntos durante anos dentro
da sala de aula, mas são estranhos uns para os outros. Eles se escondem atrás dos
livros, das apostilas, dos computadores. A culpa é dos ilustres professores? Não! A
culpa, como veremos, é do sistema educacional doentio que se arrasta por séculos.
As crianças e os jovens aprendem a lidar com fatos lógicos, mas não sabem lidar
com fracassos e falhas. Aprendem a resolver problemas matemáticos, mas não
sabem resolver seus conflitos existenciais. São treinados para fazer cálculos e
acertá-los, mas a vida é cheia de contradições, as questões emocionais não podem
ser calculadas, nem têm conta exata.
Os jovens são preparados para lidar com decepções? Não! Eles são treinados
apenas para o sucesso. Viver sem problemas é impossível. O sofrimento nos
constrói ou nos destrói. Devemos usar o sofrimento para construir a sabedoria. Mas
quem se importa com a sabedoria na era da informática?
Nossa geração produziu informações que nenhuma outra jamais produziu, mas não
sabemos o que fazer com elas. Raramente usamos essas informações para
expandir nossa qualidade de vida. Você faz coisas fora da sua agenda que lhe dão
prazer? Você procura administrar seus pensamentos para ter uma mente mais
tranqüila? Nós nos tornamos máquinas de trabalhar e estamos transformando
nossas crianças em máquinas de aprender.
Usando erradamente os papéis da memória
Fizemos da memória de nossas crianças um banco de dados. A memória tem esta
função? Não! Veremos que durante séculos a memória foi usada de maneira errada
pela escola. Existe lembrança? Inúmeros professores e psicólogos do mundo todo
crêem sem sombra de dúvida que existe lembrança. Errado! Não existe lembrança
pura do passado, o passado é sempre reconstruído! E bom ficarmos abalados por
esta afirmação. O passado é sempre reconstruído com micro ou macro diferenças
no presente.
Veremos que há diversos conceitos equivocados na ciência sobre o fantástico
mundo do funcionamento da mente e da memória humana. Tenho convicção, como
psiquiatra e como autor de uma das poucas teorias da atualidade sobre o processo
de construção do pensamento, de que estamos obstruindo a inteligência das
crianças e o prazer de viver com o excesso de informações que estamos oferecendo
a elas. Nossa memória virou um depósito de informações inúteis.
A maioria das informações que aprendemos não será organizada na memória e
utilizada nas atividades intelectuais. Imagine um pedreiro que a vida toda acumulou
pedras para construir uma casa. Após construí-la, ele não sabe o que fazer com as
pilhas de pedras que sobraram. Gastou a maior parte do seu tempo inutilmente.
O conhecimento se multiplicou e o número de escolas se expandiu como em
nenhuma outra época, mas não estamos produzindo pensadores. A maioria dos
jovens, incluindo universitários, acumula pilhas de "pedras", mas constroem
pouquíssimas idéias brilhantes. Não é à toa que eles perderam o prazer de
aprender. A escola deixou de ser uma aventura agradável.
Paralelamente a isso, a mídia os seduziu com estímulos rápidos e prontos. Eles
tornaram-se amantes do fast food emocional. A TV transporta os jovens, sem que
eles façam esforços, para dentro de uma excitante partida esportiva, para o interior
de uma aeronave, para o cerne de uma guerra e para dentro de um dramático
conflito policial.
Esse bombardeio de estímulos não é inofensivo. Atua num fenômeno inconsciente
da minha área de pesquisa, chamado de psicoadaptação, aumentando o limiar do
prazer na vida real. Com o tempo, crianças e adolescentes perdem o prazer nos
pequenos estímulos da rotina diária.
Eles precisam fazer muitas coisas para ter um pouco de prazer, o que gera
personalidades flutuantes, instáveis, insatisfeitas. Temos uma indústria de lazer
complexa. Deveríamos ter a geração de jovens mais felizes que já pisaram nesta
terra. Mas produzimos uma geração de insatisfeitos.
Estamos informando e não formando
Não estamos educando a emoção nem estimulando o desenvolvimento das funções
mais importantes da inteligência, tais como contemplar o belo, pensar antes de
reagir, expor e não impor as idéias, gerenciar os pensamentos, ter espírito
empreendedor. Estamos informando os jovens, e não formando sua personalidade.
Os jovens conhecem cada vez mais o mundo em que estão, mas quase nada sobre
o mundo que são. No máximo conhecem a sala de visitas da sua própria
personalidade. Quer pior solidão do que esta? O ser humano é um estranho para si
mesmo! A educação tornou-se seca, fria e sem tempero emocional. Os jovens
raramente sabem pedir perdão, reconhecer seus limites, se colocar no lugar dos
outros. Qual é o resultado?
Nunca o conhecimento médico e psiquiátrico foi tão grande, e nunca as pessoas
tiveram tantos transtornos emocionais e tantas doenças psicossomáticas. A
depressão raramente atingia as crianças. Hoje há muitas crianças deprimidas e sem
encanto pela vida. Pré-adolescentes e adolescentes estão desenvolvendo obsessão,
síndrome do pânico, fobias, timidez, agressividade e outros transtornos ansiosos.
Milhões de jovens estão se drogando. Não compreendem que as drogas podem
queimar etapas da vida, levá-los a envelhecer rapidamente na emoção. Os prazeres
momentâneos das drogas destroem a galinha dos ovos de ouro da emoção. Conheci
e tratei de inúmeros jovens usuários de drogas, mas não encontrei ninguém feliz.
E o estresse? Não apenas é comum detectarmos adultos estressados, mas também
jovens e crianças. Eles têm freqüentemente dor de cabeça, gastrite, dores
musculares, suor excessivo, fadiga constante de fundo emocional.
Precisamos arquivar esta frase e jamais esquecê-la: Quanto pior for a qualidade da
educação, mais importante será o papel da psiquiatria neste século. Vamos assistir
passivamente à indústria dos antidepressivos e tranqüilizantes se tornar uma das
mais poderosas do século XXI? Vamos observar passivamente nossos filhos serem
vítimas do sistema social que criamos? O que fazer diante desta problemática?
Procurando pais brilhantes e professores fascinantes
Devemos procurar soluções que ataquem diretamente o problema. Precisamos
conhecer algo sobre o funcionamento da mente e mudar alguns pilares da
educação. As teorias não funcionam mais. Bons professores estão estressados e
gerando alunos despreparados para a vida. Bons pais estão confusos e gerando
filhos com conflitos. Existe no entanto uma grande esperança, mas não há soluções
mágicas.
Atualmente, não basta ser bom, pois a crise da educação impõe que procuremos a
excelência. Os pais precisam adquirir hábitos dos pais brilhantes para revolucionar a
educação. Os professores precisam incorporar hábitos dos educadores fascinantes
para atuar com eficiência no pequeno e infinito mundo da personalidade dos seus
alunos.
Cada hábito praticado pelos educadores poderá contribuir para desenvolver
características fundamentais da personalidade dos jovens. São mais de cinqüenta
estas características. Entretanto, raramente um jovem tem cinco delas bem
desenvolvidas.
Precisamos ser educadores muito acima da média se quisermos formar seres
humanos inteligentes e felizes, capazes de sobreviver nessa sociedade estressante.
A boa notícia é que pais ricos ou pobres, professores de escolas ricas ou carentes
podem igualmente praticar os hábitos e técnicas propostos aqui.
Um excelente educador não é um ser humano perfeito, mas alguém que tem
serenidade para se esvaziar e sensibilidade para aprender.
PARTE 1 - SETE HÁBITOS DOS BONS PAIS E DOS PAIS BRILHANTES
Os filhos não precisam de pais gigantes, mas de seres humanos que falem a sua
linguagem e sejam capazes de penetrar-lhes o coração.
1
Bons pais dão presentes,pais brilhantes dão seu próprio ser.Este hábito dos pais
brilhantes contribui para desenvolver em seus filhos: auto-estima, proteção da
emoção, capacidade de trabalhar perdas e frustrações, de filtrar estímulos
estressantes, de dialogar, de ouvir.
Bons pais atendem, dentro das suas condições, os desejos dos seus filhos. Fazem
festas de aniversário, compram tênis, roupas, produtos eletrônicos, proporcionam
viagens. Pais brilhantes dão algo incomparavelmente mais valioso aos filhos. Algo
que todo o dinheiro do mundo não pode comprar: o seu ser, a sua história, as suas
experiências, as suas lágrimas, o seu tempo.
Pais brilhantes, quando têm condições, dão presentes materiais para seus filhos,
mas não os estimulam a ser consumistas, pois sabem que o consumismo pode
esmagar a estabilidade emocional, gerar tensão e prazeres superficiais. Os pais que
vivem em função de dar presentes para seus filhos são lembrados por um momento.
Os pais que se preocupam em dar a sua história aos filhos se tornam inesquecíveis.
Você quer ser um pai ou uma mãe brilhante? Tenha coragem de falar sobre os dias
mais tristes da sua vida com seus filhos. Tenha ousadia de contar sobre suas
dificuldades do passado. Fale das suas aventuras, dos seus sonhos e dos
momentos mais alegres de sua existência. Humanize-se. Transforme a relação com
seus filhos numa aventura. Tenha consciência de que educar é penetrar um no
mundo do outro.
Muitos pais trabalham para dar o mundo aos filhos, mas se esquecem de abrir o livro
da sua vida para eles. Infelizmente, seus filhos só vão admirá-los no dia em que eles
morrerem. Por que é fundamental para a formação da personalidade dos filhos que
os pais se deixem conhecer?
Porque esta é a única maneira de educar a emoção e criar vínculos sólidos e
profundos. Quanto mais inferior é a vida de um animal, menos dependente ele é dos
seus progenitores. Nos mamíferos há uma dependência grande dos filhos em
relação aos pais, pois eles necessitam não apenas do instinto, mas de aprender
experiências com seus pais para poderem sobreviver.
Na nossa espécie essa dependência é intensa. Por quê? Porque as experiências
aprendidas são mais importantes do que as instintivas. Uma criança de sete anos é
muito imatura e dependente dos seus pais, enquanto muitos animais com a mesma
idade já são idosos.
Como ocorre esse aprendizado? Eu poderia escrever centenas de páginas sobre o
assunto, mas neste livro comentarei apenas alguns fenômenos envolvidos no
processo. O aprendizado depende do registro diário de milhares de estímulos
externos (visuais, auditivos, táteis) e internos (pensamentos e reações emocionais)
nas matrizes da memória. Anualmente arquivamos milhões de experiências.
Diferentemente dos computadores, o registro em nossa memória é involuntário,
produzido pelo fenômeno RAM (registro automático da memória).
Nos computadores, decidimos o que registrar; na memória humana, o registro não
depende da vontade humana. Todas as imagens que captamos são registradas
automaticamente. Todos os pensamentos e emoções - negativos ou saudáveis - são
registrados involuntariamente pelo fenômeno RAM.
Os vínculos definem a qualidade da relação. O que seus filhos registram de você?
As imagens negativas ou positivas? Todas. Eles arquivam diariamente os seus
comportamentos, sejam eles inteligentes ou estúpidos. Você não percebe, mas eles
o estão fotografando a cada instante.
O que gera os vínculos inconscientes não é só o que você diz a eles, mas também o
que eles vêem em você. Muitos pais falam coisas maravilhosas para suas crianças,
mas têm péssimas reações na frente delas: são intolerantes, agressivos, parciais,
dissimulados. Com o tempo, cria-se um abismo emocional entre pais e filhos. Pouco
afeto, mas muitos atritos e críticas.
Tudo que é registrado não pode mais ser deletado, apenas reeditado através de
novas experiências sobre experiências antigas. Reeditar é um processo possível,
mas complicado. A imagem que seu filho construiu de você não pode mais ser
apagada, só reescrita. Construir uma excelente imagem estabelece a riqueza da
relação que você terá com seus filhos.
Outro papel importante da memória é que a emoção define a qualidade do registro.
Todas as experiências que possuem um alto volume emocional provocam um
registro privilegiado. O amor e o ódio, a alegria e angústia provocam um registro
intenso.
A mídia descobriu, sem ter conhecimentos científicos, que anunciar as misérias
humanas fisga a emoção e gera concentração. De fato, acidentes, mortes, doenças,
seqüestras geram alto volume de tensão, conduzindo a um arquivamento
privilegiado dessas imagens. Nossa memória tornou-se assim uma lata de lixo. Não
é à toa que o homem moderno é um ser intranqüilo, que sofre por antecipação e tem
medo do amanhã.
Fica mais barato perdoar Se você tem um inimigo, fica mais barato perdoá-lo. Faça
isso por você. Caso contrário, o fenômeno RAM o arquivará privilegiadamente. O
inimigo dormirá com você e perturbará seu sono. Compreenda as suas fragilidades e
perdoe-o, pois só assim você ficará livre dele. Ensine seus filhos a fazer do palco da
sua mente um teatro de alegria, e não um palco de terror. Leve-os a perdoar as
pessoas que os decepcionam. Explique a eles este mecanismo.
Nossas agressividades, rejeições e atitudes impensadas podem criar um alto volume
de tensão emocional em nossos filhos, gerando cicatrizes para sempre. Precisamos
entender como se organizam as características doentias da personalidade.
O mecanismo psíquico é o seguinte: uma experiência dolorosa é registrada
automaticamente no centro da memória. A partir daí ela é lida continuamente,
gerando milhares de outros pensamentos. Estes pensamentos são novamente
registrados, gerando as chamadas zonas de conflitos no inconsciente.
Se você errou com seu filho, é insuficiente apenas ser dócil com ele num segundo
momento. Pior ainda, não tente compensar sua agressividade comprando-o, dandolhe
coisas. Deste modo, ele o manipulará e não o amará. Você só reparará sua
atitude e reeditará o filme do inconsciente se penetrar no mundo dele, se reconhecer
seu exagero, se falar com ele sobre sua atitude. Declare a seus filhos que eles não
estão no rodapé da sua vida, mas nas páginas centrais da sua história.
Nos divórcios é comum o pai prometer aos filhos que jamais os abandonará. Mas
quando diminui a temperatura da culpa, alguns pais também se divorciam dos seus
filhos. Os filhos perdem a sua presença, às vezes não física, mas emocional. Os
pais deixam de curtir, sorrir, elogiar e ter momentos agradáveis com os filhos.
Quando isso acontece, o divórcio gera grandes seqüelas psíquicas. Se a ponte for
bem feita, se a relação continuar a ser poética e afetiva, os filhos sobreviverão à
turbulência da separação dos seus pais e poderão amadurecer.
Seus filhos não precisam de gigantes A individualidade deve existir, pois ela é o
alicerce da identidade da personalidade. Não há homogeneidade no processo de
aprender e no desenvolvimento das crianças (Vigotsky, 1987). Não há duas pessoas
iguais no universo. Mas o individualismo é prejudicial. Uma pessoa individualista
quer que o mundo gire em torno de sua órbita, sua satisfação está em primeiro
lugar, mesmo se isso implicar o sofrimento dos outros.
Uma das causas do individualismo entre os jovens é que os pais não cruzam a sua
história com a de seus filhos. Mesmo que você trabalhe muito, faça do pouco tempo
disponível grandes momentos de convívio com seus filhos. Role no tapete. Faça
poesias. Brinque, sorria, solte-se. Perturbe-os prazerosamente.
Certa vez, um filho de nove anos perguntou a um pai, que era médico, quanto ele
cobrava por consulta. O pai disse-lhe o valor. Passado um mês, o filho aproximou-se
do pai, tirou algumas notas do bolso, esvaziou seu cofre de moedas e disse-lhe com
os olhos cheio de lágrimas: "Pai, faz tempo que eu quero conversar com você, mas
você não tem tempo. Consegui juntar o valor de uma consulta. Você pode conversar
comigo?"
Seus filhos não precisam de gigantes, precisam de seres humanos. Não precisam
de executivos, médicos, empresários, administradores de empresa, mas de você, do
jeito que você é. Adquira o hábito de abrir seu coração para os filhos e deixá-los
registrar uma imagem excelente da sua personalidade. Sabe o que acontecerá?
Eles se apaixonarão por você. Terão prazer em procurá-lo, em estar perto de você.
Quer coisa mais gostosa do que isto? A crise financeira, as perdas ou as
dificuldades poderão arremeter-se sobre a relação de vocês, mas, se ela tem
alicerces, nada a destruirá.
De vez em quando, chame um dos seus filhos sozinho e almoce ou faça programas
diferentes com ele. Diga o quanto ele é importante para você. Pergunte como está a
vida dele. Fale sobre seu trabalho e seus desafios. Deixe seus filhos participarem da
sua vida. Nenhuma técnica psicológica funcionará se o amor não funcionar.
Se você passar por uma guerra no trabalho, mas tiver paz quando chegar em casa,
será um ser humano feliz. Mas, se você tiver alegria fora de casa e viver uma guerra
na sua família, a infelicidade será sua amiga.
Muitos filhos reconhecem o valor dos seus pais, mas não o suficiente para admirálos,
respeitá-los, tê-los como mestres da vida. Os pais que estão tendo dificuldades
com os filhos não devem sentir-se culpados. A culpa engessa a alma. Na
personalidade humana nada é definitivo.
Você pode e deve reverter esse quadro. Você tem experiências riquíssimas que
transformam sua história num filme mais interessante do que os de Hollywood. Se
você duvida disso é porque talvez nem se conheça e, pior ainda, nem mesmo se
admire.
Liberte a criança feliz que está em você. Liberte o jovem alegre que vive na sua
emoção, mesmo que seus cabelos já tenham embranquecido. É possível recuperar
os anos. Deixe seus filhos descobrirem seu mundo.
Abra-se, chore e abrace-os. Chorar e abraçar são mais importantes do que dar-lhes
fortunas ou fazer-lhes montanhas de críticas.
2
Bons pais nutrem o corpo, pais brilhantes nutrem a personalidade
Este hábito dos pais brilhantes contribui para desenvolver: reflexão, segurança,
liderança, coragem, otimismo, superação do medo, prevenção de conflitos.
Bons pais cuidam da nutrição física dos filhos. Estimulam-nos a ter uma boa dieta,
com alimentos saudáveis, tenros e frescos. Pais brilhantes vão além. Sabem que a
personalidade precisa de uma excelente nutrição psíquica. Preocupam-se com os
alimentos que enriquecem a inteligência e a emoção.
Antigamente uma família estruturada era uma garantia de que os filhos
desenvolveriam uma personalidade saudável. Hoje, bons pais estão produzindo
filhos ansiosos, alienados, autoritários, angustiados. Muitos filhos de médicos, juizes,
empresários estão atravessando graves conflitos. Por que pais inteligentes e
saudáveis têm assistido seus filhos adoecerem?
Porque a sociedade se tornou uma fábrica de estresse. Não temos controle sobre o
processo de formação da personalidade dos nossos filhos. Nós os geramos e os
colocamos desde cedo em contato com um sistema social controlador (Foucault,
1998).
Eles têm contato diariamente com milhares de estímulos sedutores que se infiltram
nas matrizes de sua memória. Por exemplo, os pais ensinam os filhos a ser
solidários e a consumir o necessário, mas o sistema ensina o individualismo e a
consumir sem necessidade.
Quem ganha essa disputa? O sistema social. A quantidade de estímulos e a pressão
emocional que o sistema exerce no âmago dos jovens são intensas. Quase não há
liberdade de escolha.
Ter cultura, boa condição financeira, excelente relação conjugai e propiciar uma boa
escola para os jovens não basta para produzir saúde psíquica. Qualquer animal só
consegue escapar das garras de um predador se tiver grandes habilidades. Prepare
seus filhos para sobreviverem nas águas turbulentas da emoção e desenvolverem
capacidade crítica. Só assim poderão filtrar os estímulos estressantes. Serão livres
para escolher e decidir.
Os pais que não ensinam seus filhos a ter uma visão crítica dos comerciais, dos
programas de TV, da discriminação social os tornam presas fáceis do sistema
predatório. Para este sistema, por mais ético que ele pretenda ser, seu filho é
apenas um consumidor em potencial e não um ser humano. Prepare seu filho para
"ser", pois o mundo o preparará para "ter".
Alimente a inteligência
Bons pais ensinam os filhos a escovar os dentes, pais brilhantes os ensinam a fazer
uma higiene psíquica. Inúmeros pais imploram diariamente para que os filhos façam
a higiene bucal. Mas, e a higiene emocional? De que adianta prevenir cáries, se a
emoção das crianças se torna uma lata de lixo de pensamentos negativos, manias,
medos, reações impulsivas e apelos sociais?
Por favor, ensine os jovens a proteger sua emoção. Tudo que atinge frontalmente a
emoção atinge drasticamente a memória e constituirá a personalidade. Certa vez,
um excelente jurista me disse no consultório que, se tivesse sabido proteger a sua
emoção desde pequeno, sua vida não teria sido um drama. Ele fora rejeitado
quando criança por alguém próximo, porque tinha um defeito na face. A rejeição
controlou sua alegria. O defeito não era grande, mas o fenômeno RAM registrou-o e
realimentou-o. Não teve infância. Escondia-se das pessoas. Vivia só no meio da
multidão.
Ajude seus filhos a não serem escravos dos seus problemas. Alimente o anfiteatro
dos pensamentos e o território da emoção deles com coragem e ousadia. Não se
conforme se eles forem tímidos e inseguros.
O "eu", que representa a vontade consciente ou a liberdade de decidir, tem de ser
treinado para tornar-se líder e não um fantoche. Ser líder não quer dizer ter
capacidade para resolver tudo e assumir todos os problemas à nossa volta. Os
problemas sempre existirão. Se forem solucionáveis, temos de resolvê-los. Se não
temos condições de resolvê-los, precisamos aceitar nossas limitações. Mas jamais
devemos gravitar na órbita deles.
Se você tivesse a capacidade de entrar no palco da mente dos jovens, constataria
que muitos são atormentados por pensamentos ansiosos. Alguns se angustiam com
as provas escolares. Outros, com cada curva do corpo que detestam. Outros ainda
acham que ninguém gosta deles. Muitos jovens têm uma péssima auto-estima.
Quando a baixa auto-estima nasce, a alegria morre.
Certa vez, um jovem de dezesseis anos me procurou após uma palestra. Disse que
diariamente destruía sua tranqüilidade ao pensar que um dia ficaria velho e morreria.
Ele estava começando a vida, mas se perturbava com seu fim. Quantos jovens não
estão sofrendo, sem que nem mesmo seus pais ou seus professores lhes
perscrutem o coração? O cárcere da emoção tem aprisionado milhões de jovens.
Eles sofrem em silêncio. Depois de fechar as páginas deste livro, converse com
eles.
Que educação é esta que fala sobre o mundo em que estamos e se cala sobre o
mundo que somos? Pergunte sempre aos seus filhos: "O que está acontecendo com
você?", "Você precisa de mim?", "Você tem vivido alguma decepção?", "O que eu
posso fazer para torná-lo mais feliz?".
De que adianta você cuidar diariamente da nutrição de bilhões de células dos seus
filhos mas descuidar da nutrição psicológica? De que adianta terem um corpo
saudável se são infelizes, instáveis, sem proteção emocional, fogem dos seus
problemas, têm medo das críticas, não sabem receber um "não"? Nenhum pai no
mundo daria alimento estragado aos filhos, mas fazemos isso com a nutrição
psicológica. Não percebemos que tudo que eles arquivam controlará suas
personalidades.
Alimente a personalidade de seus filhos com sabedoria e tranqüilidade. Fale das
suas peripécias, dos seus momentos de hesitação, dos vales emocionais que
atravessou. Não deixe que o solo da sua memória se transforme numa terra de
pesadelos, mas num jardim de sonhos.
Não se esqueça de que tropeçamos nas pequenas pedras e não nas montanhas. As
pequenas pedras no inconsciente se transformam em grandes colinas.
O pessimismo é um câncer da alma
Você pode não ter dinheiro, mas, se for rico em bom senso, será um pai ou uma
mãe brilhante. Se você contagiar seus filhos com seus sonhos e entusiasmo, a vida
será enaltecida. Se for um especialista em reclamar, se mostrar medo da vida, temor
pelo amanhã, preocupações excessivas com doenças, estará paralisando a
inteligência e a emoção deles.
Sabe quanto tempo demora um conflito psíquico, sem tratamento e sem fundo
genético, para ter remissão espontânea? Às vezes, três gerações. Por exemplo, se
um pai tem obsessão por doenças, um dos filhos poderá registrar esta obsessão
continuamente e reproduzi-la. O neto poderá tê-la com menos intensidade. Somente
o bisneto poderá ficar livre dela. Quem estuda os papéis da memória sabe da
gravidade do processo de transmissão das mazelas psíquicas.
Demonstre força e segurança aos seus filhos. Diga freqüentemente a eles: "A
verdadeira liberdade está dentro de você", "Não seja frágil diante das suas
preocupações!", "Enfrente as suas manias e ansiedade", "Opte por ser livre! Cada
pensamento negativo deve ser combatido, para não ser registrado".
O verdadeiro otimismo é construído pelo enfrentamento dos problemas e não pela
sua negação. Por isso, as palestras de motivação raramente funcionam. Elas não
dão ferramentas para gerar um otimismo sólido, que nutre o "eu" como líder do
teatro da inteligência. Por isso, a linha deste livro é de divulgação científica. Meu
objetivo é dar ferramentas.
De acordo com pesquisas em universidades americanas, uma pessoa otimista tem
30% de chances a menos de ter doenças cardíacas. Os otimistas têm menos
chances ainda de ter doenças emocionais e psicossomáticas.
O pessimismo é um câncer da alma. Muitos pais são vendedores de pessimismo. Já
não basta o lixo social que a mídia deposita no palco da mente dos jovens, muitos
pais transmitem para eles um futuro sombrio. Tudo lhes é difícil e perigoso. Estão
preparando os filhos para temer a vida, fechar-se num casulo, viver sem poesia.
Nutra seus filhos com um otimismo sólido!
Não devemos formar super-homens, como preconizava Nietzsche. Pais brilhantes
não formam heróis, mas seres humanos que conhecem seus limites e sua força.
3
Bons pais corrigem erros, pais brilhantes ensinam a pensar
Este hábito dos pais brilhantes contribui para desenvolver: consciência crítica,
pensar antes de reagir, fidelidade, honestidade, capacidade de questionar,
responsabilidade social.
Bons pais corrigem falhas, pais brilhantes ensinam os filhos a pensar. Entre corrigir
erros e ensinar a pensar existem mais mistérios do que imagina nossa vã psicologia.
Não seja um perito em criticar comportamentos inadequados, seja um perito em
fazer seus filhos refletirem. As velhas broncas e os conhecidos sermões
definitivamente não funcionam, só desgastam a relação.
Quando você abre a boca para repetir as mesmas coisas, detona um gatilho
inconsciente que abre determinados arquivos da memória que contêm as velhas
críticas. Seus filhos já saberão tudo o que você vai dizer. Eles se armarão e se
defenderão. Conseqüentemente, o que você disser não ecoará dentro deles, não
gerará um momento educacional. Este processo é inconsciente.
Quando seu filho erra, ele já espera uma atitude sua. Se o que você diz não causa
um impacto na sua emoção, o fenômeno RAM não produzirá um registro inteligente,
e, conseqüentemente, não haverá crescimento, mas sofrimento. Não insista em
repetir as mesmas coisas para os mesmos erros, para as mesmas teimosias.
Às vezes, insistimos anos a fio dizendo as mesmas coisas, e os jovens continuam
repetindo as mesmas falhas. Eles são teimosos e nós, estúpidos. Educar não é
repetir palavras, é criar idéias, é encantar. Os mesmos erros merecem novas
atitudes.
Se nossos filhos fossem computadores, poderíamos repetir a mesma reação para
corrigir o mesmo defeito. Mas eles possuem uma inteligência complexa.
Diariamente, pelo menos quatro fenômenos lêem a memória e, em meio a bilhões
de opções, produzem milhares de cadeias de pensamentos e inúmeras
transformações da energia emocional. Não é objeto deste livro estudar os quatro
fenômenos que lêem a memória; aqui apenas os citarei: o gatilho da memória, a
janela da memória, o autofluxo e o "eu", que representa a vontade consciente.
A personalidade das crianças e dos jovens está em constante ebulição, porque
nunca se interrompe a construção de pensamentos. É impossível parar de pensar,
até a tentativa de interrupção do pensamento já é um pensamento. Nem ao dormir
interrompemos os pensamentos, por isso sonhamos. Pensar é inevitável, mas
pensar demais, como estudaremos, gera um desgaste violento de energia cerebral,
prejudicando drasticamente a qualidade de vida.
Não seja um manual de regras
Os computadores são pobres engenhocas comparados à inteligência de qualquer
criança, mesmo das crianças especiais. Mas insistimos em educar nossos filhos
como se fossem aparelhos lógicos que precisam apenas seguir um manual de
regras. Cada jovem é um mundo a ser explorado.
Regras são boas para consertar computadores. Dizer "faça isso" ou "não faça
aquilo", sem explicar as causas, sem estimular a arte de pensar, produz robôs e não
jovens que pensam.
Creio que 99% das críticas e das correções dos pais são inúteis, não influenciam a
personalidade dos jovens. Além de não educar, elas geram mais agressividade e
distanciamento. O que fazer? Surpreendê-los!
Pais brilhantes conhecem o funcionamento da mente para educar melhor. Eles têm
consciência de que precisam ganhar primeiro o território da emoção, para depois
ganhar o anfiteatro dos pensamentos e, em último lugar, conquistar os solos
conscientes e inconscientes da memória, que é a caixa de segredos da
personalidade. Eles surpreendem a emoção com gestos ímpares. Deste modo,
geram fantásticos momentos educacionais.
Os pais podem ler durante décadas minha teoria, as idéias de Piaget, a psicanálise
de Freud, as inteligências múltiplas de Gardner, a filosofia de Platão, mas, se não
conseguirem encantar, ensinar a pensar e conquistar o armazém da memória dos
seus filhos, nenhum estudo terá aplicabilidade e validade.
Surpreender os filhos é dizer coisas que eles não esperam, reagir de modo diferente
diante dos seus erros, superar as suas expectativas. Por exemplo: seu filho acabou
de levantar a voz para você. O que fazer? Ele espera que você grite e o castigue!
Mas, em vez disso, você inicialmente se cala, relaxa e depois diz algo que o deixa
pasmo: "Eu não esperava que você me ofendesse desse jeito. Apesar da dor que
você me causou, eu amo e respeito muito você." Após dizer essas palavras, o pai
sai de cena e deixa o filho pensar. A resposta do pai abalará os alicerces de sua
agressividade.
Se você quiser causar um impacto enorme no universo emocional e racional dos
seus filhos, use de criatividade e sinceridade. Você conquistará os inconquistáveis.
Se aplicar esses princípios no trabalho, tenha certeza de que você envolverá até os
colegas mais complicados. Entretanto, não é apenas com um gesto que você
garantirá a conquista, mas através de uma pauta de vida.
Se você educa a inteligência emocional dos seus filhos com elogios quando eles
esperam uma bronca (Goleman, 1996), com um encorajamento quando eles
esperam uma reação agressiva, com uma atitude afetuosa quando eles esperam um
ataque de raiva, eles se encantarão e registrarão você com grandeza. Os pais se
tornarão assim agentes de mudança.
Bons pais dizem aos filhos: "Você está errado." Pais brilhantes dizem: "O que você
acha do seu comportamento?" Bons pais dizem: "Você falhou de novo." Pais
brilhantes dizem: "Pense antes de reagir." Bons pais punem quando os filhos
fracassam; pais brilhantes os estimulam a fazer de cada lágrima uma oportunidade
de crescimento.
Geração do hambúrguer emocional
A juventude sempre foi uma fase de rebeldia às convenções dos adultos. Mas a
atual geração produziu um feito único na História: matou a arte de pensar e a
capacidade de contestação da juventude. Os jovens raramente contestam o
comportamento dos adultos. Por quê?
Porque eles amam o veneno que produzimos. Eles amam o sucesso rápido, o
prazer imediato, os holofotes da mídia, ainda que vivam no anonimato. O excesso
de estímulo gerou uma emoção flutuante, sem capacidade contemplativa. Até seus
modelos de vida têm de ter um sucesso explosivo. Querem ser personagens como
artistas ou esportistas que, do dia para a noite, conquistam fama e aplausos.
Os jovens vivem a geração do "hambúrguer emocional". Detestam a paciência. Não
sabem contemplar o belo nas pequenas coisas da vida. Não lhes peça para
admirarem as flores, os entardeceres, as conversas singelas. Para eles tudo é uma
chatice. As críticas dos pais e dos professores são insuportáveis, raramente eles as
ouvem com atenção.
Como ajudá-los? Saia do lugar-comum. Uma das coisas mais importantes na
educação é levar um filho a admirar seu educador. Um pai pode ser um trabalhador
braçal, mas, se encanta seu filho, será grande dentro dele. Um pai pode ser grande
no meio empresarial, ter milhares de funcionários, mas, se não encantar seu filho,
será pequeno em sua alma.
Seja um mestre da inteligência, ensine-os a pensar. Deixe-os fotografar a pessoa
brilhante que você é. Será que este clamor encontrará um eco?
4
Bons pais preparam os filhos para os aplausos, pais brilhantes preparam os filhos
para os fracassos
Este hábito dos pais brilhantes contribui para desenvolver: motivação, ousadia,
paciência, determinação, capacidade de superação, habilidade para criar e
aproveitar oportunidades.
Bons pais preparam seus filhos para receber aplausos, pais brilhantes os preparam
para enfrentar suas derrotas. Bons pais educam a inteligência lógica dos filhos, pais
brilhantes educam a sensibilidade.
Estimule seus filhos a ter metas, a procurar o sucesso no estudo, no trabalho, nas
relações sociais, mas não pare por aí. Leve-os a não ter medo dos seus insucessos.
Não há pódio sem derrotas. Muitos não sobem no pódio, não por não terem
capacidade, mas porque não souberam superar os fracassos do caminho. Muitos
não conseguem brilhar no seu trabalho porque desistiram nos primeiros obstáculos.
Alguns não venceram porque não tiveram paciência para suportar um não, porque
não tiveram ousadia para enfrentar algumas críticas, nem humildade para
reconhecer suas falhas.
A perseverança é tão importante quanto a habilidade intelectual. A vida é uma longa
estrada que tem curvas imprevisíveis e derrapagens inevitáveis. A sociedade nos
prepara para os dias de glória, mas são os dias de frustração que dão sentido a
essa glória.
Revelando maturidade, os pais brilhantes se colocam como modelos de vida para
uma vida vitoriosa. Para eles, ter sucesso não é ter uma vida infalível. Vencer não é
acertar sempre. Por isso, eles são capazes de dizer aos filhos: "Eu errei", "Desculpeme",
"Eu preciso de você". Eles são fortes nas convicções, mas flexíveis para admitir
suas fragilidades. Pais brilhantes mostram que as mais belas flores surgem após o
mais rigoroso inverno.
A vida é um contrato de risco
Pais que não têm coragem de reconhecer seus erros nunca ensinarão seus filhos a
enfrentar seus próprios erros e a crescer com eles. Pais que admitem que estão
sempre certos nunca ensinarão seus filhos a transcender seus fracassos. Pais que
não pedem desculpas nunca ensinarão seus filhos a lidar com a arrogância. Pais
que não revelam seus temores terão sempre dificuldade de ensinar seus filhos a ver
nas perdas oportunidades para serem mais fortes e experientes. Temos agido assim
com nossos filhos, ou desempenhamos apenas as obrigações triviais da educação?
Viver é um contrato de risco. Os jovens precisam viver este contrato apreciando os
desafios e não fugindo deles. Se eles se intimidarem diante das derrotas e
dificuldades, o fenômeno RAM registrará em sua memória milhares de experiências
que financiarão o complexo de inferioridade, a baixa auto-estima e o sentimento de
incapacidade. Qual é a conseqüência?
Um jovem que tem baixa auto-estima se sentirá diminuído, inferiorizado, sem
capacidade para correr risco e para transformar suas metas em realidade. Poderá
viver um envelhecimento emocional precoce. A juventude deveria ser a melhor
época do prazer, embora tenha suas inquietações. Mas muitos são velhos no corpo
de jovens. Ser idoso não quer dizer ser velho. Aliás, muitos idosos, por serem felizes
e motivados, são mais jovens na sua emoção do que grande parte dos jovens da
atualidade.
Qual é a característica de uma emoção envelhecida, sem tempero e motivação?
Incapacidade de contemplação do belo e uma capacidade intensa de reclamar, pois
nada satisfaz prolongadamente. Reclamar do corpo, da roupa, dos amigos, da falta
de dinheiro, da escola e até de ter nascido.
A capacidade de reclamar é o adubo da miséria emocional e a capacidade de
agradecer é o combustível da felicidade. Muitos jovens fazem muitas coisas para ter
uma migalha de prazer. Eles mendigam o pão da alegria, mesmo morando em
palácios.
Os jovens que se tornam mestres em reclamar têm grande desvantagem
competitiva. Dificilmente conquistarão espaço social e profissional. Alerte-os!
Como os jovens entendem o que é a memória dos computadores, compare-a com a
memória humana. Diga-lhes que toda reclamação é acompanhada de um alto grau
de tensão, que, por sua vez, sofre um arquivamento privilegiado pelo fenômeno
RAM na memória, que lentamente destrói o júbilo da emoção. Os melhores anos da
vida são sufocados. Pouco a pouco, eles perdem o sorriso, a garra, a motivação.
Descobrindo a grandeza das coisas anônimas
Leve seus filhos a encontrar os grandes motivos para serem felizes nas pequenas
coisas. Uma pessoa emocionalmente superficial precisa de grandes eventos para ter
prazer, uma pessoa profunda encontra prazer nas coisas ocultas, nos fenômenos
aparentemente imperceptíveis: no movimento das nuvens, no bailar das borboletas,
no abraço de um amigo, no beijo de quem ama, num olhar de cumplicidade, no
sorriso solidário de um desconhecido.
Felicidade não é obra do acaso, felicidade é um treinamento. Treine as crianças
para serem excelentes observadoras. Saia pelos campos ou pelos jardins, faça-as
acompanhar o desabrochar de uma flor e descubra juntamente com elas o belo
invisível. Sinta com seus olhos as coisas lindas que estão a seu redor.
Leve os jovens a enxergar os singelos momentos, a força que surge nas perdas, a
segurança que brota no caos, a grandeza que emana dos pequenos gestos. As
montanhas são formadas por ocultos grãos de areia.
As crianças serão felizes se aprenderem a contemplar o belo nos momentos de
glória e de fracassos, nas flores das primaveras e nas folhas secas do inverno. Eis o
grande desafio da educação da emoção!
Para muitos, a felicidade é loucura dos psicólogos, delírio dos filósofos, alucinação
dos poetas. Eles não entenderam que os segredos da felicidade se escondem nas
coisas simples e anônimas, tão distantes e tão próximas deles.
5
Bons pais conversam, pais brilhantes dialogam como amigos
Este hábito dos pais brilhantes contribui para desenvolver: solidariedade,
companheirismo, prazer de viver,otimismo, inteligência interpessoal.
Vimos que o primeiro hábito dos pais brilhantes é deixar seus filhos conhecê-los; o
segundo é nutrir a personalidade deles; o terceiro é ensiná-los a pensar; o quarto é
prepará-los para as derrotas e dificuldades da vida. Agora, precisamos compreender
que a melhor maneira de desenvolver todos esses hábitos é adquirir um quinto
hábito: dialogar.
Bons pais conversam, pais brilhantes dialogam. Entre conversar e dialogar há um
grande vale. Conversar é falar sobre o mundo que nos cerca, dialogar é falar sobre o
mundo que somos. Dialogar é contar experiências, é segredar o que está oculto no
coração, é penetrar além da cortina dos comportamentos, é desenvolver inteligência
interpessoal (Gardner, 1995).
A maioria dos educadores não consegue atravessar essa cortina. De acordo com
uma pesquisa que realizei, mais de 50% dos pais nunca tiveram a coragem de
dialogar com seus filhos sobre seus medos, perdas, frustrações.
Como é possível que pais e filhos vivam debaixo do mesmo teto por anos a fio e
permaneçam completamente ilhados? Eles dizem que se amam, mas gastam pouca
energia para cultivar o amor. Eles cuidam da parede trincada, dos problemas do
carro, mas não cuidam dos trincos da emoção e dos problemas da relação.
Quando uma simples torneira está vazando, os pais se preocupam em repará-la.
Mas será que eles gastam tempo dialogando com os seus filhos para ajudá-los a
reparar a alegria, a segurança ou a sensibilidade que está se dissipando?
Se pegássemos todo o dinheiro de uma empresa e o jogássemos no lixo,
estaríamos cometendo um grave crime contra ela. Ela iria à falência. Será que não
temos cometido este crime contra a mais fascinante empresa social - a família -, cuja
única moeda é o diálogo? Se destruirmos o diálogo, como se sustentará a relação
"pais e filhos"? Ela irá à falência.
Devemos adquirir o hábito de nos reunir pelo menos semanalmente com nossos
filhos, para dialogar com eles. Devemos dar-lhes liberdade para que possam falar de
si mesmos, das suas inquietações e das dificuldades de relacionamento com os
irmãos e conosco, seus pais. Vocês não imaginam o que essas reuniões podem
provocar.
Se os pais nunca contaram para seus filhos os seus mais importantes sonhos, e
também nunca ouviram deles as suas maiores alegrias e suas decepções mais
marcantes, eles formarão um grupo de estranhos e não uma família. Não há mágica
para construir uma relação saudável. O diálogo é insubstituível.
Procurando amigos
Há um mundo a ser descoberto dentro de cada jovem, mesmo dos mais
complicados e isolados. Muitos jovens são agressivos e rebeldes, e seus pais não
percebem que eles estão gritando através de seus conflitos. Os comportamentos
inadequados muitas vezes são clamores que imploram a presença, o carinho e a
atenção dos pais.
Muitos sintomas psicossomáticos, tais como dores de cabeça ou dores abdominais,
também são gritos silenciosos dos filhos. Quem os ouve? Muitos pais levam seus
filhos a psicólogos, o que pode ajudar, mas, no fundo, o que eles estão procurando é
o coração dos pais.
Uma sugestão: se você tiver condições, desligue a TV aberta e fique apenas com a
fechada. Se tomar esta atitude, provavelmente você ficará espantado com o salto na
relação de seus filhos com os irmãos e com você. Eles serão mais afetuosos,
dialogarão mais, terão mais tempo para brincar e se divertir. Assistirão a menos
canais apelativos e a mais canais contemplativos, que falam sobre natureza e
ciência.
E quem não tem TV fechada? Aqui vai uma outra sugestão para todos os pais, ainda
mais importante do que a primeira. Chamo-a de "projeto da educação da
emoção" (PEE): desliguem a TV durante uma semana completa a cada dois meses
e realizem coisas interessantes com seus filhos. Planejem passar seis semanas ao
longo do ano com eles. Pais e filhos, mesmo que não viajem para lugares
longínquos, devem viajar para dentro uns dos outros.
Combinem o que farão. Vão para a cozinha juntos, inventem novos pratos, contem
piadas, façam teatro familiar, plantem flores, conheçam coisas interessantes.
Fiquem todas as noites com seus filhos em cada uma dessas semanas. Façam do
PEE um projeto de vida.
O maior desejo dos pais deveria ser que seus filhos fossem seus amigos: diplomas,
dinheiro, sucesso são conseqüências de uma educação brilhante. Eu tenho três
filhas. Se elas não se tornarem minhas amigas, serei frustrado como pai, mesmo
que seja um escritor mundialmente respeitado.
Apesar de ser especialista em conflitos psíquicos, eu também erro, e não poucas
vezes. Mas o importante é saber o que fazer com os erros. Eles podem construir a
relação ou destruí-la. Por diversas vezes, pedi desculpas às minhas filhas quando
exagerei em minhas atitudes, fiz julgamentos precipitados ou levantei minha voz
desnecessariamente. Assim, elas aprenderam comigo a se desculpar e a
reconhecer seus excessos.
Algumas pessoas que me viram tomar essa atitude ficaram impressionadas. Diziam:
"O Cury está pedindo desculpas para suas filhas?" Nunca viram um pai reconhecer
erros e se desculpar, ainda mais um psiquiatra. Muitos filhos de psicólogos e
psiquiatras adquirem conflitos porque os pais não se humanizam, não conseguem
falar ao coração deles e ser admirados por eles.
Não quero filhas que me temam, quero que elas me amem. Felizmente, elas são
apaixonadas por mim e por minha esposa. Se há amor, a obediência é espontânea e
natural. Não há coisa mais linda, mais poética, do que pais serem grandes amigos
dos seus filhos.
A pérola do coração
Abraçar, beijar e falar espontaneamente com os filhos cultiva a afetividade, rompe os
laços da solidão. Muitos europeus e americanos sofrem de profunda solidão. Eles
não sabem tocar seus filhos e dialogar abertamente com eles. Moram na mesma
casa, mas vivem em mundos diferentes. O toque e o diálogo são mágicos, criam
uma esfera de solidariedade, enriquecem a emoção e resgatam o sentido da vida.
Muitos jovens cometem suicídio nos países desenvolvidos, porque raramente
alguém penetra no mundo deles e é capaz de ouvi-los sem preconceito. Existe um
conceito errado na psiquiatria sobre o suicídio. Quem comete atos de suicídio não
quer matar a vida, mas sim a sua dor.
Todas as pessoas que pensam em morrer no fundo têm fome e sede de viver. O que
elas querem destruir é o sofrimento causado por seus conflitos, a solidão que as
abate, a angústia que as solapa. Fale isso para as pessoas deprimidas, e você verá
brotar a esperança em seu interior. Na minha experiência, pude ajudar muitos
pacientes a encontrar coragem para mudar as rotas da sua vida por dizer tais
palavras. Alguns entravam no consultório desejosos de morrer, mas saíam
convencidos de que amavam desesperadamente viver.
Numa sociedade em que pais e filhos não são amigos, a depressão e outros
transtornos emocionais encontram um meio de cultura ideal para crescerem. A
autoridade dos pais e o respeito por parte de seus filhos não são incompatíveis com
a mais singela amizade. Por um lado, você não deve ser permissivo nem um joguete
nas mãos dos seus filhos, por outro, você deve procurar ser um grande amigo deles.
Estamos na era da admiração. Ou os seus filhos o admiram ou você não terá
influência sobre eles. A verdadeira autoridade e o sólido respeito nascem através do
diálogo. O diálogo é uma pérola oculta no coração. Ela é tão cara e tão acessível.
Cara, porque ouro e prata não a compram; acessível, porque o mais miserável dos
homens pode encontrá-la. Procure-a.
6
Bons pais dão informações, pais brilhantes contam histórias
Este hábito dos pais brilhantes contribui fará desenvolver: criatividade, inventividade,
perspicácia, raciocínio esquemático, capacidade de encontrar soluções em
situações tensas.
Bons pais são uma enciclopédia de informações, pais brilhantes são agradáveis
contadores de histórias. São criativos, perspicazes, capazes de extrair das coisas
mais simples belíssimas lições de vida.
Querem ser pais brilhantes? Não apenas tenha o hábito de dialogar, mas de contar
histórias. Cativem seus filhos pela sua inteligência e afetividade, não pela sua
autoridade, dinheiro ou poder. Tornem-se pessoas agradáveis. Influenciem o
ambiente onde eles estão.
Sabe qual é o termômetro que indica se vocês são agradáveis, indiferentes ou
insuportáveis? A imagem que os filhos dos seus amigos têm de vocês. Se eles têm
prazer em se aproximar, vocês passaram no teste. Se eles os evitam, vocês foram
reprovados e terão de rever suas atitudes.
Sempre fui um contador de histórias. Minhas filhas adolescentes me pedem até hoje
para contá-las. Os pais que são contadores de histórias não têm vergonha de usar
seus erros e dificuldades para ajudar os filhos a mergulhar dentro de si mesmos e
encontrar seus caminhos. Quando os filhos estão desesperados, com medo do
amanhã, com receio de enfrentar um problema, esses pais entram em cena e criam
histórias que transformam a emoção ansiosa dos filhos numa fonte de motivação.
Certa vez, uma de minhas filhas foi criticada por algumas jovens por ser uma pessoa
simples, não gostar de ostentação e também por não compactuar com a
preocupação excessiva com a estética. Estava se sentindo rejeitada e triste. Após
ouvi-la, libertei minha imaginação e contei-lhe uma história. Disse-lhe que algumas
pessoas preferem um bonito sol pintado num quadro, outras preferem um sol real,
ainda que esteja coberto pelas nuvens. Perguntei-lhe: qual é o sol que você prefere?
Ela pensou e escolheu o sol real. Então, completei, mesmo que as pessoas não
acreditem no seu sol, ele está brilhando. Você tem luz própria. Um dia, as nuvens
que o encobrem se dissiparão e as pessoas irão enxergá-lo. Não tenha medo das
críticas dos outros, tenha medo de perder a sua luz.
Ela nunca mais se esqueceu dessa história. Ficou tão feliz que a contou para várias
de suas amigas. Ser feliz é um treinamento e não uma obra do acaso. Qual é uma
das mais excelentes maneiras de educar? Contar histórias. Contar histórias amplia o
mundo das idéias, areja a emoção, dilui as tensões.
A chegada de um novo irmão pode gerar reações agressivas, rejeições, regressões
instintivas (ex., perda do controle do ato de urinar) e mudanças de atitude no irmão
mais velho, comprometendo a formação da sua personalidade. O bebê se torna, às
vezes, um estranho no ninho. Pais habilidosos criam histórias, desde a gestação do
bebê, que incluem ambos os irmãos em experiências divertidas e que incentivam o
companheirismo. O mais velho incorpora essas histórias, deixa de encarar o mais
novo irmão como rival e desenvolve afetividade por ele.
Ensine muito falando pouco
O Mestre dos mestres foi um excelente educador porque era um contador de
parábolas. Cada parábola que ele contou há dois mil anos era uma rica história que
abria o leque da inteligência, destruía preconceitos e estimulava o pensamento. Este
era um dos segredos pelos quais ele vivia rodeado de jovens.
Os jovens apreciam pessoas inteligentes. Para ser inteligente não é preciso ser um
intelectual ou um cientista, basta criar histórias e inserir nelas lições de vida. Muitos
pais são engessados nas suas mentes. Acham que não são criativos, que não têm
perspicácia e inteligência. O que não é verdade. Tenho convicção, como
pesquisador da inteligência, de que cada pessoa tem um potencial intelectual
enorme que está represado.
Recordo-me de um paciente autista que não produzia qualquer pensamento lúcido.
Sua incapacidade intelectual era enorme. Depois de usar algumas ferramentas que
estimularam o fenômeno RAM, as janelas da sua memória se abriram. Após dois
anos de tratamento, não apenas estava pensando com brilhantismo, mas também
contando histórias. Todos os seus colegas de classe ficavam pasmos com sua
imaginação. Há um contador de histórias dentro do ser humano mais hermético e
fechado.
Se, às vezes, nem você mesmo suporta seu jeito fechado de ser, como quer que
seus filhos o ouçam? Não grite, não agrida, não revide com agressividade. Pare!
Conte histórias para quem você ama. Você pode ensinar muito falando pouco.
Tenha intrepidez para mudar! Seja inventivo. Você pode educar muito se
desgastando pouco. Pais brilhantes estimulam seus filhos a vencer seus temores e a
viver com suavidade. São contadores de histórias, são vendedores de sonhos. Se
você conseguir fazer seus filhos sonharem, terá um tesouro que muitos reis
procuraram e não conquistaram.
7
Bons pais dão oportunidades, pais brilhantes nunca desistem
Este hábito dos pais brilhantes contribui para desenvolver: apreço pela vida,
esperança, perseverança, motivação, determinação e capacidade de se questionar,
de superar obstáculos e de vencer fracassos.
Bons pais são tolerantes com alguns erros dos seus filhos, pais brilhantes jamais
desistem deles, ainda que os filhos os decepcionem e adquiram transtornos
emocionais. O mundo pode não apostar em nossos filhos, mas jamais devemos
perder a esperança de que eles se tornem grandes seres humanos.
Pais brilhantes são semeadores de idéias e não controladores dos seus filhos. Eles
semeiam no solo da inteligência deles e esperam que um dia suas sementes
germinem. Durante a espera pode haver desolação, mas, se as sementes são boas,
um dia germinarão, mesmo que os filhos se droguem, não tenham respeito pela vida
e não parem em emprego algum.
Talvez alguns pais estejam lendo este livro e chorando. Seus filhos estão vivendo
profundas crises. Eles recusam um tratamento e são indiferentes às lágrimas das
pessoas que os amam. O que fazer? Desistir deles! Não. Mas comportar-se como o
pai do filho pródigo.
O filho desistiu do pai, mas o pai nunca desistiu do filho. O filho partiu, mas o pai o
aguardou. O pai esperava diariamente que ele aprendesse na escola da vida as
lições que não aprendeu aos seus pés. Por fim, a grande vitória. A dor rompeu a
casca das sementes que o pai plantou e lapidou silenciosamente a personalidade do
filho. Ele voltou. Adquiriu profundas cicatrizes na alma, mas está mais maduro e
experiente. O pai não condenou o filho injusto, mas fez-lhe uma grande festa.
Ninguém entendeu. O amor é incompreensível.
Devemos ser poetas na batalha da educação. Podemos chorar, mas jamais
desanimar. Podemos nos ferir, mas jamais deixar de lutar. Devemos ver o que
ninguém vê. Enxergar um tesouro soterrado nas rústicas pedras do coração dos
nossos filhos.
Ninguém se diploma na tarefa de educar
Antigamente, os pais eram autoritários; hoje, são os filhos. Antigamente, os
professores eram os heróis dos alunos; hoje, são vítimas deles. Os jovens não
sabem ser contrariados. Nunca na história assistimos a crianças e jovens
dominando tanto os adultos. Os filhos se comportam como reis cujos desejos têm de
ser imediatamente atendidos.
Em primeiro lugar, aprenda a dizer "não" para seus filhos sem medo. Se eles não
ouvirem "não" dos seus pais, estarão despreparados para ouvir "não" da vida. Não
terão chance de sobreviver.
Em segundo lugar, quando disserem "não", os pais não devem ficar cedendo a
chantagens e pressões dos filhos. Caso contrário, a emoção das crianças e jovens
se tornará uma gangorra: num momento serão dóceis, em outro, explosivos; numa
hora estarão animados, em seguida, mal-humorados.
Se forem flutuantes e chantagistas no ambiente social, serão excluídos.
Em terceiro lugar, os pais têm de deixar claro quais são os pontos a serem
negociados e quais são os limites inegociáveis. Por exemplo, ir para a cama de
madrugada durante a semana e ter de acordar cedo para estudar é inaceitável e,
portanto, inegociável. De outro lado, a quantidade de tempo na Internet e o horário
de volta para casa podem ser negociados.
Se os pais incorporarem os hábitos dos educadores brilhantes que mencionei, eles
poderão, sem medo, contrariar, colocar limites e dizer "não" aos seus filhos. Os
resmungos, as birras, as crises deles não serão destrutivas, mas construtivas.
Vivemos tempos difíceis. As regras e os conselhos psicológicos parecem não ter
mais eficácia. Pais do mundo todo se sentem perdidos, sem solo para andar, sem
ferramentas para penetrar no mundo dos seus filhos. De fato, conquistar o planeta
psíquico dos nossos filhos é tão ou mais complexo do que conquistar o planeta
físico. Atuar no aparelho da inteligência é uma arte que poucos aprendem.
Quero deixar claro que os hábitos dos pais brilhantes revelam que ninguém se
diploma na educação de filhos. Os que dizem "Eu sei" ou "Não preciso da ajuda de
ninguém "já estão derrotados. Para educar precisamos aprender sempre e conhecer
na plenitude a palavra paciência. Quem não tem paciência desiste, quem não
consegue aprender não encontra caminhos inteligentes.
Infelizes dos psiquiatras que não conseguem aprender com seus pacientes. Infelizes
dos pais que não conseguem aprender com seus filhos e corrigir rotas. Infelizes dos
professores que não conseguem aprender com seus alunos e renovar suas
ferramentas. A vida é uma grande escola que pouco ensina para quem não sabe ler.
Por ser a vida uma grande escola, os pais devem procurar compreender os hábitos
dos professores fascinantes que descreverei a seguir. Eles serão úteis na sua
jornada. Pais e professores são parceiros na fantástica empreitada da educação.
PARTE 2
SETE HÁBITOS
DOS BONS PROFESSORES
E DOS PROFESSORES
FASCINANTES
Educar é ser um artesão da personalidade, um poeta da inteligência, um semeador
de idéias.
1
Bons professores são eloqüentes, professores fascinantes conhecem o
funcionamento da mente
Este hábito dos professores fascinantes contribui para desenvolver em seus alunos:
capacidade
de gerenciar os pensamentos, administrar
as emoções, ser líder de si mesmo, trabalhar
perdas e frustrações, superar conflitos.
Bons professores têm uma boa cultura acadêmica e transmitem com segurança e
eloqüência as informações em sala de aula. Os professores fascinantes ultrapassam
essa meta. Eles procuram conhecer o funcionamento da mente dos alunos para
educar melhor. Para eles, cada aluno não é mais um número na sala de aula, mas
um ser humano complexo, com necessidades peculiares.
Os professores fascinantes transformam a informação em conhecimento e o
conhecimento em experiência. Sabem que apenas a experiência é registrada de
maneira privilegiada nos solos da memória, e somente ela cria avenidas na memória
capazes de transformar a personalidade. Por isso, estão sempre trazendo as
informações que transmitem para a experiência de vida.
A educação passa por uma crise sem precedentes na História. Os alunos estão
alienados, não se concentram, não têm prazer em aprender e são ansiosos. De
quem é a culpa? Dos alunos ou dos pais? Nem de uns nem dos outros. As causas
são mais profundas. As causas principais são frutos do sistema social que estimulou
de maneira assustadora os fenômenos que constroem os pensamentos.
Estudaremos esse assunto no tópico a seguir.
O palco da mente dos jovens de hoje é diferente dos jovens do passado. Os
fenômenos que estão nos bastidores da mente deles e que produzem pensamentos
são os mesmos, mas os atores que estão no palco são distintos. A qualidade e a
velocidade dos pensamentos mudaram. Precisamos conhecer alguns papéis da
memória e algumas áreas do processo de construção da inteligência para encontrar
as ferramentas necessárias e capazes de dar uma reviravolta na educação.
O primeiro hábito de um professor fascinante é entender a mente do aluno e
procurar respostas incomuns, diferentes daquelas a que o jovem está acostumado.
A síndrome SPA
A televisão mostra mais de sessenta personagens por hora com as mais diferentes
características de personalidade. Policiais irreverentes, bandidos destemidos,
pessoas divertidas. Essas imagens são registradas na memória e competem com a
imagem dos pais e professores.
Os resultados inconscientes disso são graves. Os educadores perdem a capacidade
de influenciar o mundo psíquico dos jovens. Seus gestos e palavras não têm
impactos emocionais e, conseqüentemente, não sofrem um arquivamento
privilegiado capaz de produzir milhares de outras emoções e pensamentos que
estimulem o desenvolvimento da inteligência. Freqüentemente os educadores
precisam gritar para obter o mínimo de atenção.
A maior conseqüência do excesso de estímulos da TV é contribuir para gerar a
síndrome do pensamento acelerado, SPA. Nunca deveríamos ter mexido na caixa
preta da inteligência, que é a construção de pensamentos, mas, infelizmente,
mexemos. A velocidade dos pensamentos não poderia ser aumentada
cronicamente. Caso contrário, ocorreriam uma diminuição da concentração e um
aumento da ansiedade. É exatamente isso que está acontecendo com os jovens.
A ansiedade da SPA gera uma compulsão por novos estímulos, numa tentativa de
aliviá-la. Embora menos intenso, o princípio é o mesmo que ocorre na dependência
psicológica das drogas. Os usuários de drogas usam sempre novas doses para
tentar aliviar a ansiedade gerada pela dependência. Quanto mais usam, mais
dependentes ficam.
Os portadores da SPA adquirem uma dependência por novos estímulos. Eles se
agitam na cadeira, têm conversas paralelas, não se concentram, mexem com os
colegas. Estes comportamentos são tentativas de aliviar a ansiedade gerada pela
SPA.
A educação está falida, a violência e a alienação social aumentaram, porque, sem
perceber, cometemos um crime contra a mente das crianças e dos adolescentes.
Tenho convicção científica de que a velocidade dos pensamentos dos jovens há um
século era bem menor do que a atual, e por isso o modelo de educação do passado,
embora não fosse ideal, funcionava.
Precisamos de um novo modelo de educação. No final do livro comentarei dez
técnicas para produzirmos uma educação excelente, capaz de eliminar os efeitos
negativos da SPA.
Em minhas conferências, freqüentemente pergunto aos professores com mais de
dez anos em sala de aula se eles percebem que os alunos atuais estão mais
agitados que os do passado, e a resposta unânime é afirmativa. Precisamos de
professores incomuns, que compreendam o anfiteatro da mente humana. De
professores comuns o mundo está cheio.
Pensar é excelente, pensar muito é péssimo. Quem pensa muito rouba energia vital
do córtex cerebral e sente uma fadiga excessiva, mesmo sem ter feito exercício
físico. Este é um dos sintomas da SPA. Os demais sintomas são sono insuficiente,
irritabilidade, sofrimento por antecipação, esquecimento, déficit de concentração,
aversão à rotina e, às vezes, sintomas psicossomáticos, como dor de cabeça, dores
musculares, taquicardia, gastrite. Por que um dos sintomas é o esquecimento?
Porque o cérebro tem mais juízo do que nós e bloqueia a memória para pensarmos
menos e gastarmos menos energia.
Muitos cientistas não percebem que a SPA é a principal causa da crise na educação
mundial. Ela é coletiva, atinge grande parte da população adulta e infantil. Os
adultos mais. responsáveis apresentam uma SPA mais forte e, por isso, ficam mais
estressados. Por quê? Porque têm um trabalho intelectual mais intenso, pensam
mais, são mais preocupados.
A SPA dos alunos faz com que as teorias educacionais e psicológicas do passado
quase não funcionem, porque, enquanto os professores falam, os alunos estão
agitados, inquietos, sem concentração e, ainda por cima, viajando nos seus
pensamentos. Os professores estão presentes na sala de aula e os alunos estão em
outro mundo.
As causas da SPA
A síndrome SPA gera uma hiperatividade de origem não-genética. Desde os
primórdios da humanidade sempre existiu a hiperatividade genética, caracterizada
por uma ansiedade psicomotora, inquietação e agitação do pensamento de fundo
metabólico. Por isso, algumas pessoas sempre foram mais ansiosas, teimosas e
hiperpensantes do que outras. Mas hoje há uma hiperatividade funcional nãogenética
- a SPA.
Quais são as causas da SPA? A primeira, como disse, é o excesso de estímulo
visual e sonoro produzido pela TV, e que atinge frontalmente o território da emoção.
Notem que não estou falando da qualidade do conteúdo da TV, mas do excesso de
estímulos, sejam eles bons ou péssimos. A segunda é o excesso de informações.
Em terceiro lugar, a paranóia do consumo e da estética, que dificulta a
interiorização.
Todas essas causas excitam a construção de pensamentos e geram uma
psicoadaptação aos estímulos da rotina diária, ou seja, uma perda do prazer pelas
pequenas coisas do dia-a-dia. Os portadores da SPA estão sempre inquietos,
tentando garimpar algum estímulo que os alivie.
Com respeito ao excesso de informação, é fundamental saber que uma criança de
sete anos de idade da atualidade tem mais informações na memória do que um ser
humano de setenta, há um ou dois séculos. Essa avalanche de informações excita
de maneira inadequada os quatro grandes fenômenos que lêem a memória e
constróem cadeias de pensamentos. Quem tem SPA não consegue gerenciar os
pensamentos plenamente, não consegue tranqüilizar sua mente.
O maior vilão da qualidade de vida do homem moderno não é seu trabalho, nem a
competição, a carga horária excessiva ou as pressões sociais, mas o excesso de
pensamentos. A SPA compromete a saúde psíquica de três formas: ruminando o
passado e desenvolvendo sentimento de culpa, produzindo preocupações sobre
problemas existenciais e sofrendo por antecipação.
Não basta ser eloqüente. Para ser um professor fascinante é preciso conhecer a
alma humana para descobrir ferramentas pedagógicas capazes de transformar a
sala de casa e a sala de aula num oásis, e não numa fonte de estresse. E uma
questão de sobrevivência, pois, caso contrário, alunos e professores não terão
qualidade de vida. E isso já está acontecendo. Vejamos como.
Destruíram a qualidade de vida do professor
Uma revelação chocante. Na Espanha, 80% dos professores estão estressados. Na
Inglaterra, o governo está tendo dificuldade de formar professores, principalmente de
ensino fundamental e médio, porque poucos querem esta profissão. Nos demais
países, a situação é igualmente crítica.
De acordo com pesquisas do instituto Academia de Inteligência, no Brasil, 92% dos
professores estão com três ou mais sintomas de estresse e 41% com dez ou mais. E
um número altíssimo, indicando que quase a metade dos professores não deveria
estar em sala de aula, mas internada numa clínica antiestresse. Compare com este
outro número: na população de São Paulo, dramaticamente estressada, 22,9%
estão com dez ou mais sintomas.
Os números gritam. Eles indicam que os professores estão quase duas vezes mais
estressados do que a população de São Paulo, que é uma das maiores e mais
estressantes cidades do mundo. Creio que a situação em qualquer nação
desenvolvida é a mesma. Os sintomas que mais se destacam são os ligados à
síndrome do pensamento acelerado.
Que tipo de batalha estamos travando para que nossos nobres soldados que se
encontram no front - os professores estejam adoecendo coletivamente? Que tipo de
educação é esta que estamos construindo e que vem eliminando a boa qualidade de
vida de nossos queridos mestres? Damos valor ao mercado de petróleo, de carros,
de computadores, mas não percebemos que o mercado da inteligência está falindo.
Não apenas os salários e a dignidade dos professores precisam ser resgatados,
mas também a sua saúde. Professores e alunos estão coletivamente com a
síndrome SPA.
Um pedido aos professores fascinantes: por favor, tenham paciência com seus
alunos. Eles não têm culpa dessa agressividade, alienação e agitação em sala de
aula. Eles são vítimas. Detrás dos piores alunos há um mundo a ser descoberto e
explorado.
Há uma esperança no caos. Precisamos construir a escola dos nossos sonhos.
Aguarde!
2
Bons professores possuem metodologia, professores fascinantes possuem
sensibilidade
Este hábito dos professores fascinantes contribui para desenvolver: auto-estima,
estabilidade, tranqüilidade, capacidade de contemplação do belo, de perdoar, de
fazer amigos, de socializar.
Bons professores falam com a voz, professores fascinantes falam com os olhos.
Bons professores são didáticos, professores fascinantes vão além. Possuem
sensibilidade para falar ao coração dos seus alunos.
Seja um professor fascinante. Fale com uma voz que expresse emoção. Mude de
tonalidade enquanto fala. Assim, você cativará a emoção, estimulará a concentração
e aliviará a SPA dos seus alunos. Eles desacelerarão seus pensamentos e viajarão
no mundo das suas idéias. Um fascinante professor de matemática, química ou
línguas é alguém capaz de conduzir seus alunos numa viagem sem sair do lugar.
Toda vez que dou uma conferência, procuro fazer com que meus ouvintes viajem,
reflitam sobre a vida, caminhem dentro de si mesmos, saiam do lugar-comum.
Um professor fascinante é mestre da sensibilidade. Ele sabe proteger a emoção nos
focos de tensão. O que significa isso? Significa não deixar que a agressividade e as
atitudes impensadas dos seus alunos roubem sua tranqüilidade. Entende que os
fracos excluem, os fortes acolhem, os fracos condenam, os fortes compreendem.
Ele procura acolher seus alunos e compreendê-los, mesmo os mais difíceis.
Enxergue o mundo com os olhos de uma águia. Veja por vários ângulos a educação.
Entenda que somos criadores e vítimas do sistema social que valoriza o ter e não o
ser, a estética e não o conteúdo, o consumo e não as idéias. No que depender de
nós, devemos dar nossa parcela de contribuição para gerar uma humanidade mais
saudável.
Não esqueça que você não é apenas um pilar da escola clássica, mas um pilar da
escola da vida. Tenha consciência de que os computadores podem gerar gigantes
na ciência, mas crianças na maturidade.
Os educadores, apesar das suas dificuldades, são insubstituíveis, porque a
gentileza, a solidariedade, a tolerância, a inclusão, os sentimentos altruístas, enfim,
todas as áreas da sensibilidade não podem ser ensinadas por máquinas, e sim por
seres humanos.
3
Bons professores educam a inteligência lógica, professores fascinantes educam a
emoção
Este hábito dos professores fascinantes contribui para desenvolver: segurança,
tolerância, solidariedade, perseverança, proteção contra os estímulos estressantes,
inteligência emocional e interpessoal.
Bons professores ensinam seus alunos a explorar o mundo em que estão, do
imenso espaço ao pequeno átomo. Professores fascinantes ensinam os alunos a
explorar o mundo que são, o seu próprio ser. Sua educação segue as notas da
emoção.
Os professores fascinantes sabem que trabalhar com a emoção é mais complexo do
que trabalhar com os mais intricados cálculos da física e da matemática. A emoção
pode transformar ricos em paupérrimos, intelectuais em crianças, poderosos em
frágeis seres.
Eduque a emoção com inteligência. E o que é educar a emoção? E estimular o
aluno a pensar antes de reagir, a não ter medo do medo, a ser líder de si mesmo,
autor da sua história, a saber filtrar os estímulos estressantes e a trabalhar não
apenas com fatos lógicos e problemas concretos, mas também com as contradições
da vida.
Educar a emoção também é se doar sem esperar retorno, ser fiel à sua consciência,
extrair prazer dos pequenos estímulos da existência, saber perder, correr riscos para
transformar os sonhos em realidade, ter coragem para andar por lugares
desconhecidos. Quem teve o privilégio de educar a emoção em sua juventude?
Infelizmente, mergulhamos na sociedade sem qualquer preparo para viver. Somos
vacinados desde a infância contra uma série de vírus e bactérias, mas não
recebemos nenhuma vacina contra as decepções, frustrações e rejeições. Quantas
lágrimas, doenças psíquicas, crises no relacionamento e até suicídios poderiam ser
evitados com a educação da emoção?
Sem a educação da emoção podemos gerar pelo menos três resultados. Alguns se
tornam insensíveis, têm traços de uma personalidade psicopata. Eles possuem uma
emoção insensível, e por isso ofendem e machucam os outros, mas não sentem a
dor deles, não pensam nas conseqüências dos seus comportamentos.
Outros, ao contrário, se tornam hipersensíveis. Vivem intensamente a dor dos
outros, se doam sem limites, se preocupam demais com a crítica alheia, não têm
proteção emocional. Uma ofensa estraga o dia, o mês e até a vida. As pessoas
hipersenstveis costumam ser excelentes para os outros, mas péssimas para si
mesmas.
Outros, ainda, são alienados, não ferem os outros, mas não pensam no futuro, não
têm sonhos, metas, deixam a vida levá-los, vivem um conformismo doentio.
As escolas não estão conseguindo educar a emoção. Elas estão gerando jovens
insensíveis, hipersensíveis ou alienados. Precisamos formar jovens que tenham uma
emoção rica, protegida e integrada.
4
Bons professores usam a memória como depósito de informações, professores
fascinantes usam-na como,suporte da arte de pensar.
Este hábito dos professores fascinantes contribui para desenvolver: pensar antes de
reagir, expor e não impor as idéias, consciência crítica, capacidade de debater, de
questionar, de trabalhar em equipe.
Bons professores usam a memória como armazém de informações, professores
fascinantes usam a memória como suporte da criatividade. Bons professores
cumprem o conteúdo programático das aulas, professores fascinantes também
cumprem o conteúdo programático, mas seu objetivo fundamental é ensinar os
alunos a serem pensadores e não repetidores de informações.
A educação clássica transformou a memória humana num banco de dados. A
memória não tem essa função. Como disse, grande parte das informações que
recebemos nunca será recordada. Ocupamos um espaço precioso da memória com
informações pouco úteis e até inúteis.
Os professores e os psicólogos juram que existe lembrança, mas, como já
dissemos, este é um dos grandes pilares falsos em que se apóiam a psicologia e as
ciências da educação. Não existe lembrança pura do passado, mas reconstrução do
passado com micro ou macro diferenças.
Quantos pensamentos nós produzimos ontem? Milhares! De quantos conseguimos
nos lembrar com a cadeia exata de verbos, substantivos, adjetivos? Talvez de
nenhum. No entanto, se procurarmos recordar as pessoas, os ambientes e as
circunstâncias com os quais nos relacionamos, reconstruiremos milhares de outros
pensamentos, não exatamente os mesmos que pensamos ontem.
Concluímos que o objetivo da memória não é dar suporte para a lembrança, mas
para a reconstrução criativa do passado. Só existe lembrança pura das informações
destituídas de experiências sociais e emocionais, ou seja, das informações lógicas,
como os números. Mesmo assim, o resgate dessas lembranças envolve emoções
sutis subjacentes. Por isso, em alguns momentos, temos maior ou menor habilidade
para resolver cálculos matemáticos.
A memória clama para que o ser humano seja criativo, mas a educação clássica
clama para que ele seja repetitivo. A memória não é um banco de dados nem nossa
capacidade de pensar é uma máquina de repetir informações, como as pobres
máquinas dos computadores.
A memória dos computadores é escrava de estímulos programados. A memória
humana é um canteiro de informações e experiências para que cada um de nós
produza um fantástico mundo de idéias.
Um membro da tribo africana tem o mesmo potencial intelectual de um cientista de
Harvard. Muitos consideram que Einstein foi o maior cérebro do século XX. Mas,
como um dos raros cientistas que produziu conhecimento sobre o processo de
construção de pensamentos, tenho convicção de que um membro das tribos
indígenas do Amazonas tem o mesmo potencial intelectual que Einstein.
Todos possuímos um corpo de fenômenos que, em milésimos de segundos, lê os
campos da memória e produz o espetáculo dos pensamentos. Só não produzimos
grandes idéias, pensamentos inusitados, criações surpreendentes porque
engessamos a arte de pensar.
Durante os dois primeiros anos do ensino médio, eu tinha apenas dois cadernos e
quase nada estava escrito neles. Era difícil me adaptar a uma educação que não
provocava minha inteligência. Alguns, naquela época, vendo meu aparente
desinteresse, achavam que eu não seria nada na vida. Mas, dentro de mim, havia
uma explosão de idéias. Pensar era uma aventura que me encantava.
Hoje tenho mais de cinco mil páginas escritas, e a minoria está publicada. Meus
livros são estudados por cientistas e lidos por centenas de milhares de pessoas em
todo o mundo. No entanto, estou convicto de que não tenho uma inteligência
privilegiada. Todos temos uma mente especial. Aonde chegamos depende do
quanto libertamos a arte de pensar.
Abrindo as janelas da inteligência
As provas escolares que estimulam os alunos a repetir informações, além de pouco
úteis, são freqüentemente prejudiciais, pois engessam a inteligência. As provas
deveriam ser abertas, promover a criatividade, estimular o desenvolvimento do livre
pensamento, cultivar o raciocínio esquemático, expandir a capacidade de
argumentação dos alunos. Os testes e as perguntas fechadas deveriam ser evitados
ou pouco usados como provas escolares.
Nas provas deveria ser valorizado qualquer raciocínio esquemático, qualquer idéia
organizada, mesmo que estivessem completamente errados em relação à matéria
dada. É possível dar nota máxima para um raciocínio brilhante baseado em dados
errados. Isso valoriza pensadores. A exigência de detalhes só deveria ser solicitada
aos especialistas na universidade e não no ensino fundamental e médio.
Em meu livro Revolucione Sua Qualidade de Vida, falo sobre a memória de uso
contínuo ou memória consciente -MUC - e a memória existencial ou inconsciente -
ME. A grande maioria das informações, talvez mais de 90%, que registramos na
MUC nunca será recordada. Elas vão para a periferia da memória, para a ME, e
serão reeditadas (substituídas) ou transferidas para arquivos pouco acessados nos
porões do inconsciente.
As informações mais úteis são aquelas transformadas em conhecimento e que, por
sua vez, são transformadas em experiências na MUC. Quando tratar da escola dos
nossos sonhos, indicarei ferramentas para estimular a arte de pensar.
No passado, o conhecimento dobrava em dois ou três séculos. Atualmente, o
conhecimento dobra a cada cinco anos. No entanto, onde estão os pensadores?
Estamos assistindo ao fim dos pensadores nas escolas, nas universidades e até nos
cursos de pós-graduação. Multiplicamos o conhecimento, mas não os homens que
pensam.
Os alunos que vão mal nas provas, hoje, poderão se tornar excelentes cientistas,
executivos e profissionais no futuro. Basta que os estimulemos. Estimule seus
alunos a abrir as janelas da mente, a ter ousadia para pensar, questionar, debater,
romper paradigmas.
Este é um excelente hábito. Professores fascinantes formam pensadores que são
autores da sua história.
5
Bons professores são mestres temporários, professores fascinantes são mestres
inesquecíveis
Este hábito dos professores fascinantes contribui para desenvolver: sabedoria,
sensibilidade, afetividade, serenidade, amor pela vida, capacidade de falar ao
coração, de influenciar pessoas.
Um bom professor é lembrado nos tempos de escola. Um professor fascinante é um
mestre inesquecível. Um bom professor procura os alunos, um professor fascinante
é procurado por eles. Um bom professor é admirado, um professor fascinante é
amado. Um bom professor se preocupa com as notas dos seus alunos, um professor
fascinante se preocupa em transformá-los em engenheiros de idéias.
Ser um mestre inesquecível é formar seres humanos que farão diferença no mundo.
Suas lições de vida marcam para sempre os solos conscientes e inconscientes dos
seus alunos. O tempo pode passar e as dificuldades podem surgir, mas as sementes
de um professor fascinante jamais serão destruídas.
Tenho investigado a vida de grandes pensadores como Confúcio, Buda, Platão,
Freud, Einstein. Todos eles foram mestres inesquecíveis, porque estimularam seu
íntimo a velejar para dentro de si mesmos. Na coleção de livros Análise da
Inteligência de Cristo (Cury, 2000), tive a oportunidade de investigar os
pensamentos de Jesus Cristo, bem como sua capacidade de proteger a emoção, e
sua habilidade de trabalhar nos solos da inteligência dos seus discípulos.
Apesar das minhas limitações, fiz uma análise psicológica e não teológica da sua
personalidade. Os resultados foram extraordinários. Talvez, pela primeira vez, textos
referentes a Jesus Cristo tenham sido adotados em faculdades de psicologia,
pedagogia e direito.
Aparentemente, ele morreu como o mais derrotado dos homens, pois o mais forte
dos seus discípulos o negou e os demais o abandonaram. Mas ninguém é derrotado
quando suas sementes são enterradas. As sementes que ele plantou nos solos da
memória dos seus discípulos inspiraram a inteligência, libertaram a emoção,
romperam o cárcere do medo, fizeram dos jovens galileus, tão despreparados para a
vida, uma casta de finos pensadores.
A conclusão a que cheguei é que Jesus Cristo se tornou o mestre inesquecível não
por atos sobrenaturais, mas porque arejou o anfiteatro da mente humana com
habilidade ímpar. Nunca alguém tão grande se fez tão pequeno para tornar grandes
os pequenos. Independentemente de religião, os que amam a educação devem
estudá-lo.
Excelentes escolas têm gerado alunos com problemas. No passado, as escolas da
periferia não conseguiam ajudar seus "alunos-problemas". Hoje, boas escolas que
usam teorias respeitáveis, como a do construtivismo e das inteligências múltiplas,
têm sido incapazes de formar coletivamente jovens sábios e lúcidos.
Seja um mestre fascinante. Inspire a inteligência dos seus alunos, leve-os a
enfrentar seus desafios e não apenas a ter cultura informativa. Estimule-os a
gerenciar seus pensamentos e a ter um caso de amor com a vida.
Não se cale sobre sua história, transmita suas experiências de vida. As informações
são arquivadas na memória, as experiências são cravadas no coração.
6
Bons professores corrigem comportamentos, professores fascinantes resolvem
conflitos em sala de aula
Este hábito dos professores fascinantes contribui para ,desenvolver: superação da
ansiedade, resolução de crises interpessoais, socialização, proteção emocional,
resgate da liderança do eu nos focos de tensão.
Bons professores corrigem os comportamentos agressivos dos alunos. Professores
fascinantes resolvem conflitos em sala de aula. Entre corrigir comportamentos e
resolver conflitos em sala de aula há uma distância maior do que imagina a nossa
nobre educação.
Resolver conflitos em sala de aula é um tema novo em muitos países. Só agora
alguns países europeus e os EUA estão despertando para isso. Já faz algum tempo
que tenho comentado em congressos que os pais e professores precisam se equipar
para resolver conflitos entre seus filhos e alunos.
Em primeiro lugar, é preciso conhecer, como comentei, a síndrome SPA. Em
segundo, os professores necessitam proteger sua emoção diante do calor dos
conflitos dos alunos, caso contrário um atrito poderá desgastá-los profundamente.
Neste caso, a escola se tornará um deserto e os professores contarão nos dedos os
dias que faltam para a aposentadoria.
Em terceiro lugar, diante de qualquer atrito, ofensa ou crise entre os alunos ou dos
alunos com o professor, a melhor resposta é não dar resposta alguma. Nos
primeiros trinta segundos em que estamos tensos, cometemos nossos piores erros,
nossas piores atrocidades. No calor da tensão, seja amigo do silêncio, respire fundo.
Por que usar a ferramenta do silêncio? Porque emoção tensa fecha o território de
leitura da memória, obstruindo a construção de cadeias de pensamentos. Deste
modo, reagimos por instinto, como os animais, e não com a inteligência.
Em quarto lugar, procure não dar uma lição de moral em quem foi agressivo. Este
procedimento é usado desde a idade da pedra, e não é eficaz, não gera um
momento educacional, pois a emoção do agressor está tensa, e sua inteligência,
obstruída.
O que fazer? Usar a ferramenta que já comentei quando falei sobre os pais. Encante
sua classe com gestos inesperados. Surpreenda seus alunos. Assim você irá
resolver conflitos em sala de aula. Como? Leve-os a pensar, a mergulhar dentro de
si mesmos, a se confrontar consigo mesmos. Não é uma tarefa fácil, mas é possível.
Vejamos como.
Um tapa com luva de pelica direto no coração
Certa vez, alguns alunos conversavam no fundo da sala. A professora de línguas
pediu silêncio, mas eles continuaram. Ela foi mais enfática, chamou a atenção de um
aluno que falava alto. Ele foi agressivo com ela. Gritou: "Você não manda em mim!
Eu pago para você trabalhar!" O clima ficou tenso.
Todos esperaram que a professora gritasse com o aluno, ou o expulsasse da classe.
Em vez disso, ela ficou em silêncio, relaxou, diminuiu sua tensão e libertou sua
imaginação. Em seguida, contou-lhes uma história que aparentemente não tinha
nada a ver com o clima de agressividade.
Contou a história das crianças e dos adolescentes judeus que foram presos nos
campos de concentração nazista e perderam todos os seus direitos. Não podiam ir
às escolas, brincar nas ruas, visitar os amigos, dormir numa cama quentinha e se
alimentar com dignidade. O alimento era estragado, e eles dormiam como se fossem
objetos amontoados num depósito. O que era pior, não podiam abraçar seus pais. O
mundo desabou sobre eles.
Eles choravam e ninguém os consolava. Tinham fome e ninguém os saciava.
Gritavam pelos pais, mas ninguém os ouvia. Na frente deles apenas havia cães,
guardas e cercas de arame farpado. A professora contou o que foi um dos maiores
crimes já cometidos na nossa história. Roubaram os direitos humanos e a vida
desses jovens. Mais de um milhão de crianças e adolescentes morreram.
Depois de contar essa história, a professora não precisou falar muito. Olhou para a
classe e disse: "Vocês têm escola, amigos, professores que os amam, o carinho dos
seus pais, um alimento gostoso na sua mesa, mas será que vocês os valorizam?"
Ela resolveu conflitos em sala de aula levando-os a se colocar no lugar dos outros e
a pensar na grandeza dos direitos humanos.
Ela não precisou chamar a atenção do aluno que a ofendera. Sabia que não
adiantaria corrigir seu comportamento, e queria levá-lo a ser um pensador. Ele ficou
em completo silêncio. Voltou para casa e nunca mais foi o mesmo, pois
compreendeu que tinha muitas coisas belas que não valorizava.
Pais e professores estão perdidos no mundo das suas salas. Os professores estão
confusos dentro da sala de aula. Os pais estão sem direção dentro da sala de casa.
Não podemos aceitar que o lugar em que os jovens menos aprendam experiências
de vida seja dentro desses dois ambientes.
Aprendam a dar tapas com luva de pelica no coração emocional de quem vocês
amam. Precisamos acordar nossas crianças e nosso jovens para a vida. O afeto e a
inteligência curam as feridas da alma, reescrevem as páginas fechadas do
inconsciente.
7
Bons professores educam para uma profissão, professores fascinantes educam para
a vida
Este hábito dos professores fascinantes contribui para desenvolver: solidariedade,
superação de conflitos psíquicos e sociais, espírito empreendedor, capacidade de
perdoar, de filtrar estímulos estressantes, de escolher, de questionar, de estabelecer
metas.
Um bom professor educa seus alunos para uma profissão, um professor fascinante
os educa para a vida. Professores fascinantes são profissionais revolucionários.
Ninguém sabe avaliar o seu poder, nem eles mesmos. Eles mudam paradigmas,
transformam o destino de um povo e um sistema social sem armas, tão-somente por
prepararem seus alunos para a vida através do espetáculo das suas idéias.
Os mestres fascinantes podem ser desprezados e ameaçados, mas sua força é
imbatível. São incendiários que inflamam a sociedade com o calor da sua
inteligência, compaixão e singeleza. São fascinantes porque são livres, são livres
porque pensam, pensam porque amam solenemente a vida.
Seus alunos adquirem um bem extraordinário: consciência crítica. Por isso, não são
manipulados, controlados, chantageados. Num mundo de incertezas, eles sabem o
que querem.
Os professores fascinantes são promotores de auto-estima.
Dão uma atenção especial aos alunos desprezados, tímidos e que recebem apelidos
pejorativos. Sabem que eles podem ser encarcerados por seus traumas. Por isso,
como poetas da vida, estendem a sua mão e mostram-lhes sua capacidade interior.
Estimulam-nos a usar a dor como adubo para seu crescimento. Deste modo, eles os
preparam para sobreviver nas tormentas sociais.
Formando empreendedores
Os professores fascinantes objetivam que seus alunos sejam lideres de si mesmos.
Proclamam de diversas formas em sala de aula aos seus alunos: "Que vocês sejam
grandes empreendedores. Se empreenderem, não tenham medo de falhar. Se
falharem, não tenham medo de chorar. Se chorarem, repensem a sua vida, mas não
desistam. Dêem sempre uma nova chance a si mesmos.'
Quando as dificuldades abatem seus alunos, quando a economia do país está em
crise ou os problemas sociais se avolumam, eles novamente proclamam: "Os
perdedores vêem os raios. Os vencedores vêem a chuva, e com ela a oportunidade
de cultivar. Os perdedores paralisam-se diante de suas perdas e frustrações. Os
vencedores vêem a oportunidade de mudar tudo de novo. Nunca desista dos seus
sonhos."
Prepare seus alunos para explorarem o desconhecido, para não terem medo de
falhar, mas medo de não tentar. Ensine-os a conquistar experiências originais,
através da observação de pequenas mudanças e da correção de grandes rotas.
Novos estímulos estabelecem uma relação com a estrutura cognitiva prévia,
gerando novas experiências (Piaget, 1996). Novas experiências propiciam um
crescimento intelectual.
Leve os jovens a ter flexibilidade no trabalho e na vida, pois só não muda de idéia
quem não é capaz de produz'-Ia. Leve-os a extrair de cada lágrima uma lição de
vida.
Se não reconstruirmos a educação, as sociedades modernas se tornarão um grande
hospital psiquiátrico. As estatísticas estão demonstrando que o normal é ser
estressado, e o anormal é ser saudável.
PARTE 3
OS SETE PECADOS CAPITAIS DOS EDUCADORES
Todos erram: a maioria usa os erros para se destruir; a minoria, para se construir.
Estes são os sábios.
1
Corrigir publicamente
Corrigir publicamente uma pessoa é o primeiro pecado capital da educação. Um
educador jamais deveria expor o defeito de uma pessoa, por pior que ele seja,
diante dos outros. A exposição pública produz humilhação e traumas complexos
difíceis de serem superados. Um educador deve valorizar mais a pessoa que erra do
que o erro da pessoa.
Os pais ou os professores só devem intervir publicamente quando um jovem
ofendeu ou feriu alguém em público. Mesmo assim, devem agir com prudência para
não colocar mais lenha no calor das tensões.
Havia uma adolescente de doze anos, esperta, inteligente, sociável, que estava um
pouco obesa. Aparentemente ela não tinha problema com sua obesidade. Era uma
boa aluna, participativa e respeitada entre seus colegas.
Certa vez, sua vida sofreu uma grande guinada. Ela foi mal numa prova. Procurou a
professora e questionou a sua nota. A professora, que estava irritada por outros
motivos, desferiu-lhe um golpe mortal que modificou para sempre a sua vida,
chamando-a de "gordinha pouco inteligente" na frente dos colegas.
Corrigir alguém publicamente já é grave, humilhar é dramático. Os colegas
debocharam da jovem. Ela sentiu-se diminuída, inferiorizada, e chorou. Viveu uma
experiência com alto volume de tensão que foi registrada privilegiadamente no
centro da memória, na memória de uso contínuo (MUC).
Se considerarmos a memória como uma grande cidade, o trauma original produzido
pela humilhação da professora foi como uma casa de favela edificada num belo
bairro. A jovem leu continuamente o arquivo que continha esse trauma e produziu
milhares de pensamentos e reações emocionais de conteúdo negativo, que foram
registrados novamente, expandindo a estrutura do trauma. Deste modo, uma "casa
de favela" na memória pode contagiar um arquivo inteiro.
Portanto, não é o trauma original que se torna o grande vilão da saúde psíquica,
como Freud pensava, mas a realimentação dele. Cada gesto hostil das outras
pessoas era relacionado pela adolescente com seu trauma. Com o decorrer do
tempo, ela produziu milhares de casas de favelas. Onde havia um belo bairro no
inconsciente foi se criando um terreno desolado.
Os adolescentes devem se sentir bonitos, mesmo que sejam obesos, portadores de
um defeito físico, ou se seu corpo não preenche os padrões de beleza transmitidos
pela mídia. Beleza está nos olhos de quem vê.
Mas, infelizmente, a mídia massacrou os jovens definindo o que é beleza no
inconsciente deles. Cada imagem dos modelos nas capas das revistas, nos
comerciais e nos programas de TV é registrada na memória, formando matrizes que
discriminam quem está fora do padrão. Este processo aprisiona os jovens, mesmo
os mais saudáveis. Quando estão diante do espelho, o que é que eles observam?
Suas qualidades ou seus defeitos? Freqüentemente, seus defeitos. A mídia
aparentemente tão inofensiva discrimina os jovens da mesma maneira como os
negros foram e ainda são discriminados.
Gostaria que vocês não se esquecessem de que é através desse processo que uma
rejeição vira um monstro, um educador tenso vira um carrasco, um elevador vira um
cubículo sem ar, um vexame público paralisa a inteligência e gera o medo de expor
as idéias.
A adolescente de nossa história começou cada vez mais a obstruir sua memória
pela baixa auto-estima e sentimento de incapacidade. Deixou de tirar notas boas.
Cristalizou uma mentira: que não era inteligente. Teve várias crises depressivas.
Perdeu o encanto pela vida. Com dezoito anos, tentou o suicídio.
Felizmente, não morreu. Procurou tratamento e conseguiu superar o trauma. Essa
jovem não queria matar a vida. No fundo, como toda pessoa depressiva, ela tinha
fome e sede de viver. O que ela queria era destruir sua dramática dor, desespero e
sentimento de inferioridade.
Chamar a atenção ou apontar em público um erro ou defeito de jovens e adultos
pode gerar um trauma inesquecível que os controlará durante toda a vida. Ainda que
os jovens os decepcionem, não os humilhem. Ainda que eles mereçam uma grande
bronca, procurem chamá-los em particular e corrigi-los. Mas, principalmente,
estimulem os jovens a refletir. Quem estimula a reflexão é um artesão da sabedoria.
2
Expressar autoridade com agressividade
Certo dia, descontente com a reação agressiva do seu pai, um filho levantou a voz
para ele. O pai sentiu-se desafiado e o espancou. Disse-lhe que nunca deveria falar
com ele daquele modo. Aos gritos, afirmou que quem mandava naquela casa era
ele, que era ele que o sustentava. O pai impôs sua autoridade com violência.
Ganhou o temor do filho, mas perdeu para sempre o seu amor.
Muitos pais agridem e criticam um ao outro na frente dos filhos. Quando estivermos
ansiosos e sem condições de conversar, a melhor coisa é sair de cena. Vá para o
quarto e faça outra coisa, até conseguir abrir as janelas da memória e tratar com
inteligência os assuntos polêmicos.
Todavia, não há casais perfeitos. Todos cometemos excessos na frente dos filhos,
todos ficamos estressados. A pessoa mais calma tem seus momentos de ansiedade
e irracionalidade. Portanto, embora desejável, não é possível evitar todos os atritos
na frente dos filhos. O importante é o destino que damos aos nossos erros.
O mesmo princípio serve para os professores. Quando dermos um espetáculo
agressivo na frente das crianças, devemos pedir desculpas não apenas para o
nosso cônjuge, mas também para os filhos, pela manifestação de intolerância a que
assistiram. Se temos coragem para errar, devemos ter coragem para refazer nosso
erro.
Uma pessoa autoritária nem sempre é bruta e agressiva. Às vezes sua violência
está disfarçada numa delicada imutabilidade e teimosia. Ninguém muda sua opinião.
Se insistirmos em manter nossa autoridade a qualquer custo, estaremos cometendo
um pecado capital na educação dos nossos filhos. Nosso autoritarismo controlará a
inteligência deles.
Nossos filhos poderão reproduzir nossas reações no futuro. Aliás, observe que
costumamos reproduzir os comportamentos dos nossos pais que mais condenamos
em nossa infância. O registro silencioso não-trabalhado cria moldes no secreto da
nossa personalidade.
Alguns filhos, quando estão irritados, apontam os erros dos seus pais e os
provocam. Quantos pais perdem o amor dos seus filhos porque não sabem dialogar
com eles quando são desafiados! Têm medo de que o diálogo lhes roube a
autoridade. Não conseguem ser questionados. Alguns pais odeiam quando seus
filhos comentam sobre suas falhas. Eles parecem intocáveis. Reagem com violência.
Impõem uma autoridade que sufoca a lucidez dos filhos. Estão formando pessoas
que também reagirão com violência.
Os pais que impõem sua autoridade são aqueles que têm receio das suas próprias
fragilidades. Os limites devem ser colocados, mas não impostos. Alguns limites,
como comentei, são inegociáveis, porque comprometem a saúde e a segurança dos
filhos, mas mesmo nestes casos deve-se fazer uma mesa-redonda com os filhos e
dialogar sobre os motivos desses limites.
Nesses vinte anos atendendo inúmeros pacientes, descobri que certos pais eram
superamados pelos seus filhos. Eles não os espancaram, não eram autoritários, não
deram bens materiais a eles e nem tinham privilégios sociais. Qual foi o seu
segredo? Eles se deram aos filhos, educaram a emoção dos filhos, cruzaram seu
mundo com o mundo deles. Viveram naturalmente, sem mesmo conhecer os
princípios que comentei sobre os pais brilhantes.
O diálogo é uma ferramenta educacional insubstituível. Deve haver autoridade na
relação pai-filho e professor-aluno, mas a verdadeira autoridade é conquistada com
inteligência e amor. Pais que beijam, elogiam e estimulam seus filhos desde
pequenos a pensar não correm o risco de perdê-los e de perder o respeito deles.
Não devemos ter medo de perder nossa autoridade, devemos ter medo de perder
nossos filhos.
3
Ser excessivamente critico: obstruir a infância da criança
Havia um pai preocupadíssimo com o futuro do seu filho. Queria que ele fosse ético,
sério e responsável. A criança não podia cometer erros, nem excessos. Não podia
brincar, se sujar e fazer peripécias como toda criança. Tinha muitos brinquedos, mas
eles ficavam guardados, porque o pai, com o aval da mãe, não admitia bagunça.
Cada falha, nota ruim ou atitude insensata do filho eram criticadas imediatamente
pelo pai. Não era apenas uma crítica, mas uma seqüência de críticas e, às vezes, na
frente dos amigos do filho. Sua crítica era obsessiva e insuportável. Não bastasse
isso, querendo pressionar o filho para que ele se corrigisse, o pai comparava seu
comportamento com o dos outros jovens. O menino se sentia o mais desprezado
dos seres. Pensou em até desistir da vida, por achar que não era amado por seus
pais.
O resultado? O filho cresceu e se tornou um bom homem. Errava pouco, era sério,
ético, mas infeliz, tímido e frágil. Entre ele e seus pais havia um abismo. Por quê?
Porque não havia a mágica da alegria e da espontaneidade entre eles. Era uma
família exemplar, mas triste e sem sabor. O filho não apenas se tornou tímido, mas
frustrado. Tinha pavor da crítica dos outros. Tinha medo de errar, por isso enterrava
seus sonhos, não queria correr riscos.
Desejando acertar, o pai cometeu alguns pecados capitais da educação. Impôs
autoridade, humilhou seu filho em público, criticou-o excessivamente e obstruiu sua
infância. Este pai estava preparado para consertar computadores, e não para educar
um ser humano. Cada um desses pecados capitais é universal, pois são um
problema tanto numa sociedade moderna quanto numa tribo primitiva.
Não critique excessivamente. Não compare seu filho com seus colegas. Cada jovem
é um ser único no teatro da vida. A comparação só é educativa quando é
estimulante e não depreciativa. Dê aos seus filhos liberdade para ter as suas
próprias experiências, ainda que isso inclua certos riscos, fracassos, atitudes tolas e
sofrimentos. Caso contrário, eles não encontrarão os seus caminhos.
A pior maneira de preparar os jovens para a vida é colocá-los numa estufa e impedilos
de errar e sofrer. Estufas são boas paras as plantas, mas para a inteligência
humana são sufocantes.
O Mestre dos mestres tem lições importantíssimas para nos dar nessa área. Suas
atitudes educacionais encantam os mais lúcidos cientistas. Ele disse certa vez que
Pedro o negaria. Pedro discordou veementemente. Jesus poderia criticá-lo, apontar
seus defeitos, acusar sua fragilidade. Mas qual foi sua atitude? Nenhuma.
Ele não fez nada para mudar as idéias do amigo. Deixou o jovem apóstolo Pedro ter
suas experiências. O resultado? Pedro errou drasticamente, derramou lágrimas
incontidas, mas aprendeu lições inesquecíveis. Se não tivesse errado e reconhecido
sua fragilidade, talvez jamais amadurecesse e se tornasse quem foi. Mas, como
falhou, aprendeu a tolerar, a perdoar, a incluir.
Estimados educadores, temos de ter em mente que os fracos condenam, os fortes
compreendem, os fracos julgam, os fortes perdoam. Mas não é possível ser forte
sem perceber nossas limitações.
4
Punir quando estiver irado e colocar limites sem dar explicações
Certa vez uma menina de oito anos estava passeando num shopping próximo da
sua escola com algumas amigas. Ao ver um dinheiro em cima de um balcão, pegouo.
A balconista viu e chamou-a de ladra. Pegando-a pelo braço, levou-a em prantos
até os pais.
Os pais ficaram desesperados. Algumas pessoas mais próximas esperavam que
eles batessem e punissem a filha. Em vez disso, resolveram me procurar para saber
como agir. Tinham receio de que a menina desenvolvesse cleptomania e se
apropriasse de objetos que não lhe pertenciam.
Orientei os pais a não fazerem um drama com o caso. As crianças sempre cometem
erros, e o importante é o que fazer com eles. Minha preocupação era levá-los a
conquistar sua doce menina e não a puni-la. Orientei para que a chamassem em
separado e explicassem as conseqüências do seu ato. Em seguida, pedi-lhes que a
abraçassem, pois afinal ela já estava muito chocada com o ocorrido.
Além disso, disse que, se eles quisessem transformar o erro num grande momento
educacional, deveriam ter reações inesquecíveis. Os pais pensaram e tiveram um
gesto inusitado. Como o valor era pequeno, deram à filha o dobro do dinheiro furtado
e demonstraram eloqüentemente que ela era mais importante para eles do que todo
o dinheiro do mundo. Explicaram-lhe que a honestidade é a dignidade dos fortes.
Essa atitude deixou-a contemplativa. Em vez de serem arquivados na memória o
fato de ser ladra e uma punição agressiva dos pais, foram registrados na memória
acolhimento, compreensão e amor. O drama se transformou num romance. A jovem
nunca mais se esqueceu de que, num momento tão difícil, seus pais a ensinaram e
amaram. Quando fez quinze anos, ela abraçou seus pais, dizendo que nunca se
esquecera daquele momento poético. Todos deram risadas. Não ficou cicatriz.
Um outro caso não teve o mesmo destino. Um pai foi chamado à delegacia porque o
segurança vira seu filho furtando um CD numa loja de departamento. O pai sentiu-se
humilhado. Não percebeu a angústia do garoto e o fato de a falha ser uma excelente
oportunidade para revelar sua maturidade e sabedoria. Em vez disso, esbofeteou o
filho na frente dos guardas.
Chegando em casa, o jovem se trancou no quarto. O pai tentou arrombar a porta,
porque percebeu que o filho estava tentando se matar. Num ato impensado, desistiu
da vida, achando-se o último dos seres humanos. O pai daria tudo o que tinha para
voltar atrás, jamais pensou que perderia seu filho querido.
Por favor, jamais puna quando estiver irado. Como disse, não somos gigantes, e nos
trinta primeiros segundos da raiva somos capazes de ferir as pessoas que mais
amamos. Não se deixe escravizar por sua ira. Quando sentir que não pode controlála,
saia de cena, pois, caso contrário, você reagirá sem pensar.
A punição física deve ser evitada. Se algumas palmadas acontecerem, elas devem
ser simbólicas e acompanhadas de uma explicação. Não é a dor das palmadas que
irá estimular a inteligência das crianças e dos jovens. A melhor forma de ajudá-los é
levá-los a repensar suas atitudes, penetrar dentro de si mesmos e aprender a se
colocar no lugar dos outros.
Praticando essa educação você estará desenvolvendo as seguintes características
na personalidade dos jovens: liderança, tolerância, ponderação, segurança nos
momentos turbulentos.
Se um jovem o magoou, fale dos seus sentimentos com ele. Se necessário, chore
com ele. Se seu filho falhou, discuta as causas da sua falha, dê crédito a ele. A
maturidade de uma pessoa é revelada pela forma inteligente com que ela corrige
alguém. Podemos ser heróis ou carrascos para os jovens.
Jamais coloque limites sem dar explicações. Este é um dos pecados capitais mais
comuns que os educadores cometem, sejam eles pais ou professores. Nos
momentos de ira, a emoção tensa bloqueia os campos da memória. Perdemos a
racionalidade. Pare! Espere a temperatura da sua emoção baixar. Para educar, use
primeiro o silêncio e depois as idéias.
A melhor punição é aquela que se negocia. Pergunte aos jovens o que eles
merecem pelos seus erros. Você se surpreenderá! Eles refletirão sobre suas
atitudes e, talvez, darão uma punição mais severa para si mesmos do que você
daria. Confie na inteligência das crianças e dos adolescentes.
Punir com castigos, privações e limites só educa se não for em excesso e se
estimular a arte de pensar. Caso contrário, será inútil. A punição só é útil quando é
inteligente. A dor pela dor é inumana. Mude seus paradigmas educacionais. Elogie o
jovem antes de corrigi-lo ou criticá-lo. Diga o quanto ele é importante, antes de
apontar-lhe o defeito. A conseqüência? Ele acolherá melhor suas observações e o
amará para sempre.
5
Ser impaciente e desistir de educar
Havia um aluno muito agressivo e inquieto. Ele perturbava a classe e arrumava
freqüentes confusões. Era insolente, desacatava a todos. Repetia os mesmos erros
com freqüência. Parecia incorrigível. Os professores não o suportavam. Cogitaram
em expulsá-lo.
Antes da expulsão, entrou em cena um professor que resolveu investir no aluno.
Todos acharam que era perda de tempo. Mesmo não tendo apoio dos colegas, ele
começou a conversar com o jovem nos intervalos. No começo havia um monólogo,
só o professor falava. Aos poucos, ele começou a envolver o aluno, a brincar e a
levá-lo para tomar sorvete. Professor e aluno construíram uma ponte entre seus
mundos. Você já construiu alguma vez uma ponte como esta com as pessoas
difíceis?
O professor descobriu que o pai do rapaz era alcoólatra e espancava tanto ele como
a mãe. Compreendeu que o jovem, aparentemente insensível, já tinha chorado
muito, e agora suas lágrimas estavam secas. Entendeu que sua agressividade era
uma reação desesperada de quem estava pedindo ajuda. Só que ninguém decifrava
sua linguagem. Seus gritos eram surdos. Era muito mais fácil julgá-lo.
A dor da mãe e a violência do pai produziram zonas de conflitos na memória do
rapaz. Sua agressividade era um eco da agressividade que recebia. Ele não era réu,
era vítima. Seu mundo emocional não tinha cores. Não lhe deram o direito de
brincar, sorrir e ver a vida com confiança. Agora, estava perdendo o direito de
estudar, de ter a única chance de ser um grande homem. Estava para ser expulso.
Ao tomar conhecimento da situação, o professor começou a conquistá-lo. O jovem
sentiu-se querido, apoiado e valorizado. O professor começou a educar-lhe a
emoção. Ele percebeu, logo nos primeiros dias, que por trás de cada aluno arredio,
de cada jovem agressivo, há uma criança que precisa de afeto.
Não demorou muitas semanas para todos estarem espantados com a sua mudança.
O rapaz revoltado começou a respeitar. O garoto agressivo começou a ser afetivo.
Ele cresceu e se tornou um adulto extraordinário. E tudo isso porque alguém não
desistiu dele.
Todos querem educar jovens dóceis, mas são os que nos frustram que testam nossa
qualidade de educadores. São seus filhos complicados que testam a grandeza do
seu amor. Seus alunos insuportáveis é que testam seu humanismo.
Pais brilhantes e professores fascinantes não desistem dos jovens, ainda que eles
os decepcionem e não lhes dêem retorno imediato. Paciência é o seu segredo, a
educação do afeto é sua meta.
Gostaria que vocês acreditassem que os jovens que mais os decepcionam hoje
poderão ser os que mais lhes darão alegria no futuro. Basta investir neles.
6
Não cumprir com a palavra
Havia uma mãe que não sabia dizer "não" a um filho. Como não suportava as
reclamações, birras e tumultos do menino, queria atender a todas as suas
necessidades e reivindicações. Mas nem sempre conseguia, e, para evitar
transtornos, ela prometia o que não podia cumprir. Tinha medo de frustrar o filho.
Essa mãe não sabia que a frustração é importante para o processo de formação da
personalidade. Quem não aprende a lidar com perdas e frustrações nunca irá
amadurecer. A mãe evitava transtornos momentâneos com o filho, mas não sabia
que estava preparando uma armadilha emocional para ele. Qual foi o resultado?
Esse filho perdeu o respeito pela mãe. Ele passou a manipulá-la, explorá-la e
discutir intensamente com ela. A história é triste, pois o filho só valorizava a mãe
pelo que ela tinha e não pelo que ela era.
Na sua fase adulta, esse menino teve graves conflitos. Por ter passado a vida vendo
a mãe dissimulando e não cumprindo a sua palavra, ele projetou no ambiente social
uma desconfiança fatal. Desenvolveu uma emoção insegura e paranóica, achava
que todo mundo queria enganá-lo e puxar o seu tapete. Tinha idéias de perseguição,
não conseguia fazer amizades estáveis, nem parar nos empregos.
As relações sociais são um contrato assinado no palco da vida. Não o quebre. Não
dissimule suas reações. Seja honesto com os jovens. Não cometa esta falha capital.
Cumpra o que prometer. Se não puder, diga "não" sem medo, mesmo que seu filho
esperneie. E se você errar nessa área, volte atrás e peça desculpas. As falhas
capitais na educação podem ser solucionadas quando corrigidas rapidamente.
A confiança é um edifício difícil de ser construído, fácil de ser demolido e muito difícil
de ser reconstruído.
7
Destruir a esperança e os sonhos
0 maior pecado capital que os educadores podem cometer é destruir a esperança e
os sonhos dos jovens. Sem esperança não há estrada, sem sonhos não há
motivação para caminhar. O mundo pode desabar sobre uma pessoa, ela pode ter
perdido tudo na vida, mas, se tem esperança e sonhos, ela tem brilho nos olhos e
alegria na alma.
Havia um certo pai muito ansioso. Ele tinha elevada cultura acadêmica. Na sua
universidade todos o respeitavam. Mostrava serenidade, eloqüência e perspicácia
em decisões que não envolviam emoção. No entanto, quando contrariado,
bloqueava sua memória e reagia agressivamente. Isso acontecia principalmente
quando chegava em casa. No seu departamento era sóbrio, mas em casa era um
homem insuportável.
Não tinha paciência com seus filhos. Não tolerava o mínimo desapontamento.
Quando ficou sabendo que um deles começara a usar drogas, suas reações, que já
eram ruins, ficaram péssimas. Em vez de abraçá-lo, ajudá-lo e encorajá-lo, passou a
destruir a esperança do filho. Dizia "Você não vai virar nada na vida", "Você se
tornará um marginal".
O comportamento do pai deprimia ainda mais o filho e o levava mais fundo para o
calabouço das drogas. Infelizmente o pai não parava por aí. Além de destruir a
esperança do rapaz, obstruía-lhe os sonhos, bloqueava sua capacidade de
encontrar dias felizes. Dizia: "Você não tem solução", "Você só me dá desgosto".
Algumas pessoas íntimas desse pai achavam que ele tinha dupla personalidade.
Mas do ponto de vista científico não existe dupla personalidade. O que existem são
dois campos distintos de leitura da memória lidos em ambientes distintos, resultando
na produção de pensamentos e reações completamente distintos.
Muitas pessoas são um cordeiro com os de fora e um leão com os membros da
família. Por que esse paradoxo? Porque, com os de fora, elas se freiam e não abrem
certas favelas da memória, ou seja, os arquivos que contêm zonas de conflitos. Com
os mais íntimos, essas pessoas perdem o freio do consciente e abrem as favelas do
inconsciente. Nesse momento vêm à tona a raiva, a insensatez, a crítica obsessiva.
Esse mecanismo está presente em maior ou menor grau em todas as pessoas,
mesmo nas mais sensatas. Todos temos tendência a ferir as pessoas que mais
amamos. Mas não podemos concordar com isso. Caso contrário, corremos o risco
de destruir os sonhos e a esperança das pessoas que mais nos são caras.
Os jovens que perdem a esperança têm enormes dificuldades para superar seus
conflitos. Os que perdem seus sonhos serão opacos, não brilharão, gravitarão
sempre em torno de suas misérias emocionais e suas derrotas. Crer no mais belo
amanhecer depois da mais turbulenta noite é fundamental para ter saúde psíquica.
Não importa o tamanho dos nossos obstáculos, mas o tamanho da motivação que
temos para superá-los.
Um dos maiores problemas na psiquiatria não é a gravidade de uma doença, seja
ela uma depressão, fobia, ansiedade ou fármaco-dependência, mas a passividade
do eu. Um eu passivo, sem esperança, sem sonhos, deprimido, conformado com
suas mazelas, poderá carregar os seus problemas até o túmulo. Um eu ativo,
disposto, ousado pode aprender a gerenciar os pensamentos, reeditar o filme do
inconsciente e fazer coisas que ultrapassam nossa imaginação.
Os psiquiatras, os médicos clínicos, os professores e os pais são vendedores de
esperança, mercadores de sonhos. Uma pessoa só comete suicídio quando seus
sonhos se evaporam, sua esperança se dissipa. Sem sonhos não há fôlego
emocional. Sem esperança não há coragem para viver.
PARTE 4
OS CINCO PAPÉIS DA MEMÓRIA HUMANA
Se o tempo envelhecer o seu corpo mas não envelhecer a sua emoção, você será
sempre feliz.
Memória: caixa de segredos da personalidade
A memória é o terreno onde é cultivada a educação. Mas será que a ciência
desvendou os principais papéis da memória? Pouco! Muitas áreas permaneceram
desconhecidas. Milhões de professores no mundo estão usando a memória
inadequadamente. Por exemplo, existe lembrança? Muitos professores e psicólogos
juram que sim. Mas não há lembrança pura.
O registro da memória depende da vontade humana? Muitos cientistas pensam que
sim. Mas estão errados. O registro é automático e involuntário. A memória humana
pode ser deletada como a dos computadores? Milhões de usuários dessas
máquinas crêem que sim. Mas é impossível deletá-la.
A memória é a caixa de segredos da personalidade. Tudo o que somos, o mundo
dos pensamentos e o universo de nossas emoções são produzidos a partir dela.
Nossos erros históricos relativos à memória parecem coisa de ficção. Há milênios
atribuímos à memória funções que ela não tem.
Precisamos compreender cinco papéis fundamentais do magnífico território da
memória para podermos encontrar ferramentas para reconstruir a educação,
revolucionar seus conceitos. Esses papéis estão na construção do saber e do
aprender.
Farei uma abordagem sintética. Quem quiser se aprofundar nesses assuntos, sugiro
consultar meu livro Inteligência Multifocal (Cury, 1998).
1
O registro na memória é involuntário
Certa vez, um homem teve um atrito com um colega de trabalho. Achou que foi
tratado com a maior injustiça. Disse ao colega que o riscaria da sua vida. Fez um
esforço enorme para se livrar dele. Mas quanto mais tentava esquecê-lo, mais
pensava nele, mais reconstruía o sentimento de injustiça. Por que ele não conseguiu
cumprir sua promessa? Porque o registro é automático, não depende da vontade
humana.
A rejeição de uma idéia negativa poderá nos fazer escravos dela. Rejeite uma
pessoa, e ela dormirá com você, estragando seu sono. Perdoá-la fica
emocionalmente mais barato. Como vimos, nos computadores o registro depende de
um comando do usuário. No ser humano, o registro é involuntário, realizado, como já
vimos, pelo fenômeno RAM (registro automático da memória).
Cada idéia, pensamento, reação ansiosa, momento de solidão, período de
insegurança são registrados em sua memória e farão parte da colcha de retalhos da
sua história existencial, do filme da sua vida.
Algumas implicações desse papel da memória:
Cuidar do que pensamos no palco da nossa mente é cuidar da qualidade de
vida.
Cuidar do que sentimos no presente é cuidar do futuro emocional, do quanto
seremos felizes, tranqüilos e estáveis.
A personalidade não é estática. Sua transformação depende da qualidade de
arquivamento das experiências ao longo da vida. É possível adoecer em qualquer
época da vida, mesmo tendo uma infância feliz. Uma criança alegre pode se tornar
um adulto triste, e uma criança triste e traumatizada pode se tornar um adulto alegre
e saudável.
A qualidade das informações e experiências registradas poderá transformar a
memória num solo fértil ou num deserto árido, sem criatividade.
2
A emoção determina a qualidade do registro
Um psicólogo clínico pediu a um paciente que contasse detalhes do seu passado. O
paciente se esforçou, mas só conseguiu falar das experiências que o marcaram.
Vivera milhões de experiências, mas só conseguiu falar de algumas dezenas.
O psicoterapeuta achou que ele estava bloqueado ou dissimulando. Na realidade, o
paciente estava correto. Nós só conseguimos dar detalhes das experiências que
envolvem perdas, alegrias, elogios, medos, frustrações. Porquê? Porque a emoção
determina a qualidade do registro. Quanto maior o volume emocional envolvido em
uma experiência, mais o registro será privilegiado e mais chance terá de ser
resgatado.
Onde ele é registrado? Na MUC, que é a memória de uso contínuo ou memória
consciente. As experiências tensas são registradas no centro consciente, e a partir
daí serão lidas continuamente. Com o passar do tempo, elas vão sendo deslocadas
para a periferia inconsciente da memória, chamada de ME, memória existencial.
Em alguns casos, o volume de ansiedade ou sofrimento pode ser tão grande que
provoca um bloqueio da memória. Este bloqueio é uma defesa inconsciente que
evita o resgate e a reprodução da dor emocional. E o caso das experiências que
envolvem acidentes ou traumas de guerras. Algumas crianças sofreram tanto na
infância, que não conseguem recordar esse período de sua vida.
Normalmente as experiências com alta carga emocional ficam disponíveis para
serem lidas e gerarem milhares de novos pensamentos e emoções. Uma ofensa
não-trabalhada pode estragar o dia ou a semana. Uma rejeição pode encarcerar
uma vida. Uma criança que fica presa num quarto escuro pode desenvolver
claustrofobia. Um vexame em público pode gerar fobia social.
Algumas implicações da relação da emoção que interferem no registro da memória:
- Ensinar a matéria estimulando a emoção dos alunos desacelera o pensamento,
melhora a concentração e produz um registro privilegiado.
- Os professores e os pais que não provocam a emoção dos jovens não educam,
apenas informam.
- Dar conselhos e orientações sem emoção não gera "momentos educacionais" no
mercado da memória.
- Pequenos gestos que geram intensa emoção podem influenciar mais a formação
da personalidade das crianças do que os gritos e pressões.
- As brincadeiras discriminatórias e os apelidos pejorativos feitos em sala de aula
podem gerar experiências angustiantes capazes de produzir graves conflitos.
- Proteger a emoção é fundamental para se ter qualidade de vida.
3
A memória não pode ser deletada
Nos computadores, a tarefa mais simples é deletar ou apagar as informações. No
homem, isso é impossível, a não ser quando há lesões cerebrais. Você pode tentar
com todas as suas forças apagar seus traumas, pode tentar com toda a sua
habilidade destruir as pessoas que o decepcionaram, bem como os momentos mais
difíceis de sua vida, mas não terá êxito.
A única possibilidade de resolver nossos conflitos, como vimos, é reeditar os
arquivos da memória, através do registro de novas experiências sobre as
experiências negativas, nos arquivos onde elas estão armazenadas. Por exemplo, a
segurança, a tranqüilidade e o prazer devem ser arquivados nas áreas da memória
que contenham experiências de insegurança, ansiedade, humor triste.
Para reeditar o filme do inconsciente existem muitas técnicas, sejam técnicas
cognitivas que atuam nos sintomas, sejam técnicas analíticas que atuam nas
causas.
O ideal é unir as duas. Uma excelente maneira de uni-las é gerenciar os
pensamentos e as emoções. Deste modo, deixaremos de ser marionetes dos
nossos conflitos e passaremos a ser diretores do teatro de nossa mente.
Algumas implicações desse papel da memória:
? Tudo o que pensamos ou sentimos será registrado e fará parte do tecido da nossa
história, quer queiramos ou não.
? Diariamente podemos plantar flores ou acumular lixo no solo da memória.
? Como não é possível deletar o passado, a grande possibilidade de incorporar
novas características de personalidade e superar traumas e transtornos emocionais
é reeditar o filme do inconsciente.
? Reeditar o filme do inconsciente ou reescrever a memória é construir novas
experiências que serão arquivadas no lugar das antigas.
? A educação que varreu os séculos não compreendeu que se reeditarmos o filme
do inconsciente de maneira inteligente seremos autores da nossa história. Caso
contrário, seremos vítimas das nossas mazelas.
4
O grau de abertura das janelas da memória depende da emoção
A emoção não apenas determina se um registro será frágil ou privilegiado, mas
determina o grau de abertura dos arquivos num determinado momento.
O acesso à memória dos computadores é livre. Na inteligência humana este acesso
tem que passar pela barreira da emoção. Se uma pessoa está tranqüila ou ansiosa,
o grau de abertura da sua memória e, conseqüentemente, sua capacidade de
pensar estarão afetados por essas emoções.
Um executivo pode preparar bem uma palestra para os diretores da sua empresa,
mas no momento da apresentação pode truncar sua exposição por causa da
ansiedade. Atendi muitas pessoas cujas mãos ficam secas quando elas estão
sozinhas, mas, ao cumprimentar os outros, ficam frias e úmidas. O excesso de
tensão inibe intelectualmente essas pessoas quando têm que falar em público.
A memória humana não está disponível quando queremos. Quem determina a
abertura dos arquivos da memória é a energia emocional que vivemos a cada
momento. O medo, a ansiedade e o estresse travam os arquivos e bloqueiam os
pensamentos.
Algumas implicações derivadas da relação da emoção com a abertura da memória:
- A tranqüilidade abre as janelas da memória e leva as pessoas a serem mais
eficientes num concurso ou numa reunião de trabalho.
- A ansiedade pode comprometer o desempenho intelectual. Alunos bem-preparados
podem ir pessimamente numa prova se estiverem nervosos.
- Uma pessoa tensa ou ansiosa está apta para reagir instintivamente e não para
aprender.
- Para ajudar ou corrigir uma pessoa tensa, devemos primeiro conquistar sua
emoção para depois conquistar sua razão.
5
Não existe lembrança pura
Há milênios, construímos escolas, acreditando que existe lembrança. A máxima da
educação mundial é "ensinar para lembrar e lembrar para aplicar". Todavia, depois
de muitos anos de pesquisa sobre os papéis da memória e o funcionamento da
mente, estou convicto de que não existe lembrança pura do passado, mas
reconstrução com micro ou macro diferenças.
Já dei uma prova disso. Se você procurar tentar lembrar-se dos milhares de
pensamentos que produziu na semana passada, é provável que não resgate
nenhum com a cadeia exata de verbos, pronomes e substantivos. Mas, se resgatar
as pessoas e os ambientes com os quais se relacionou, reconstruirá milhares de
novos pensamentos, mas não exatamente o que pensou.
Do mesmo modo, se tentar recordar o dia mais triste ou mais alegre da sua vida,
não vai resgatar os mesmos pensamentos e reações emocionais daquele momento.
Você poderá reconstruir pensamentos e emoções próximos, mas não exatamente os
mesmos que sentiu. O que isso demonstra? Que a memória é especialista em nos
fazer criadores de novas idéias.
O passado é um grande alicerce para edificarmos novas experiências, e não para
vivermos em função dele. Toda vez que vivemos em função do passado, obstruímos
a inteligência e adoecemos, como é o caso das perdas e dos ataques de pânico não
superados. Felizmente nada é estático na psique, tudo pode ser superado e
reconstruído.
Quando você recorda uma experiência que teve com um amigo de infância, uma
brincadeira na escola ou um trauma emocional, essa recordação nunca é uma
lembrança pura que contém todos os pensamentos e reações emocionais que você
vivenciou na época. Ela sempre será uma reconstrução mais próxima ou distante da
experiência original.
A reconstrução do passado sofre a influência de "cores e sabores" do presente, ou
seja, de algumas variáveis, tais como o estado emocional e o ambiente social em
que estamos. Se estivermos numa festa e recordarmos uma experiência em que
fomos rejeitados, talvez sintamos apenas uma leve dor ou até acharemos graça no
fato. O ambiente social se tornou uma variável que desfigurou a reconstrução.
Sua memória não é uma máquina de repetição de informações, como os pobres
computadores. Ela é um centro de criação. Liberte-se! Seja criativo!
Algumas implicações e conseqüências do fato de não existir lembrança pura:
- As provas escolares fechadas não medem a arte de pensar. Às vezes, elas anulam
o raciocínio de alunos brilhantes.
- A quantidade exagerada de informações dadas na escola é estressante.
-A maioria das informações se perde nos labirintos da memória e nunca mais será
recordada.
- O modelo escolar que privilegia a memória como depósito de conhecimento não
forma pensadores, mas repetidores.
- O objetivo fundamental da memória é dar suporte para um raciocínio criativo,
esquemático, organizacional, e não para lembranças exatas.
PARTE 5
A ESCOLA DOS NOSSOS SONHOS
Quanto melhor for a qualidade da educação,
menos importante será o papel da psiquiatria
no terceiro milênio.
O projeto escola da vida
Os papéis da memória expostos aqui sinteticamente, bem como os hábitos dos
educadores brilhantes e fascinantes, produzirão dez ferramentas ou técnicas
psicopedagógicas que podem ser aplicadas pelos pais e principalmente pelos
professores.
Muitos educadores no mundo todo dizem que não há nada de novo na educação.
Creio que aqui será apresentado algo novo e impactante. Essas técnicas contribuem
para mudarmos para sempre a educação. Elas constituem o projeto escola da vida e
podem gerar a educação dos nossos sonhos. Podem promover o sonho do
construtivismo de Piaget, da arte de pensar de Vigotsky, das inteligências múltiplas
de Gardner, da inteligência emocional de Goleman.
As técnicas não envolverão mudanças no ambiente físico e no material didático
adotado, mas no ambiente social e psíquico dos alunos e dos professores. A
aplicação dessas técnicas na escola depende do material humano: do treinamento
dos professores e da mudança da cultura educacional.
Elas objetivam a educação da emoção, a educação da auto-estima, o
desenvolvimento da solidariedade, da tolerância, da segurança, do raciocínio
esquemático, da capacidade de gerenciar os pensamentos nos focos de tensão, da
habilidade de trabalhar perdas e frustrações. Enfim, formar pensadores.
1
Música ambiente em sala de aula
Objetivos desta técnica: desacelerar o pensamento, aliviar a ansiedade, melhorar a
concentração, desenvolver o prazer de aprender, educar a emoção.
J.C. nasceu prematuro. Como toda criança prematura, não teve tempo para se
encaixar no colo uterino e ficar um mês quietinho se preparando para as
turbulências da vida. Nasceu de sete meses, quando ainda fazia malabarismos
dentro do útero da mãe. Nasceu com toda energia.
Os estímulos do meio ambiente o perturbavam. Desenvolveu uma ansiedade intensa
e se tornou uma criança hiperativa. Tenho observado que muitos prematuros se
tornam hiperativos. A hiperatividade deles não é genética, mas decorre da falta de
psicoadaptação emocional, tão importante no final da gestação. A psicoadaptação
se dá quando o bebê mal cabe dentro do útero, e por isso tem de desacelerar seus
movimentos e aprender a relaxar.
Quando criança, J.C. não conseguia se aquietar na carteira. Era agitado, tenso,
repetia os erros, tumultuava a classe. Nada o tranqüilizava, nem as broncas dos
adultos. Ele não era assim porque queria. Tinha uma necessidade vital de perturbar
o ambiente para aliviar a sua ansiedade. Concentração? Era um artigo raro. Só se
concentrava naquilo que o interessava muito. Mas, como era um garoto esperto, o
pouco que se concentrava na aula era suficiente para fazê-lo tirar boas notas.
Com o passar do tempo, ele aprendeu a administrar a sua ansiedade e a ter projetos
de vida estáveis. Ele contou com a ajuda de professores que fizeram algumas
técnicas que comentarei a seguir. Tornou-se um profissional competente. Como todo
hiperativo, tem um pensamento acelerado. Mas sabe o que o ajudou a ser estável:
foi a música clássica. Desde a sua infância sua mãe o levou a apreciá-la.
A musica clássica desacelerava seus pensamentos e estabilizava a sua emoção.
Exemplos como o de J.C. me ajudaram a compreender o valor da música para
modular o ritmo do pensamento. Eis a primeira técnica psicopedagógica: música
ambiente durante a exposição das aulas.
Os objetivos da música no funcionamento da mente
Se a emoção determina a qualidade do registro, quando não há emoção a
transmissão das informações gera dispersão nos alunos, em vez de prazer e
concentração. Se houver música ambiente dentro da sala de aula, de preferência
música suave, o conhecimento seco e lógico transmitido pelos professores de
matemática, física, química ou línguas ganha uma dimensão emocional. O
fenômeno RAM o registrará de maneira privilegiada. Sem a emoção, o
conhecimento não possui paladar.
A musica ambiente tem três grandes metas. Primeiro, produzir a educação musical e
emocional. Segundo, gerar o prazer de aprender durante as aulas de matemática,
física, história. Platão sonhava com o deleite de aprender (Platão, 1985). Terceiro,
aliviar a síndrome do pensamento acelerado (SPA), pois aquieta o pensamento,
melhora a concentração e a assimilação de informações. A música ambiente deveria
ser usada desde a mais tenra infância na sala de casa e na sala de aula. Os efeitos
da música ambiente em sala de aula são espetaculares. Relaxam os mestres e
animam os alunos. Os jovens amam músicas agitadas porque seus pensamentos e
emoções são agitados. Mas depois de ouvir, durante seis meses, músicas
tranqüilas, a emoção deles é treinada e estabilizada.
2
Sentar em circulo ou em U
Objetivos desta técnica: desenvolver a segurança, mpromover a educação
participativa, melhorar a concentração, diminuir conflitos em sala de aula, diminuir
conversas paralelas.
Certa vez, quando eu estava na quinta série do ensino fundamental, minha classe foi
dividida em grupos. Cada grupo tinha de apresentar um trabalho na frente da turma.
Muitos do meu grupo se recusaram a fazer tal façanha. Eu, mais ousado, fui em
frente. Jamais tremi tanto. Minha voz ficou sufocada. Parecia tão fácil falar dentro do
meu quarto, mas eu não conseguia coordenar minhas idéias na frente da classe.
Hoje dou palestras para milhares de pessoas numa platéia. Mas não foi fácil superar
esse conflito.
Por que é tão difícil falar sobre nossas idéias em público? Por que muitos têm
dificuldade de estender a mão e fazer perguntas num anfiteatro? Por que algumas
pessoas são eloqüentes e seguras para falar com os íntimos mas completamente
inibidas para discutir suas opiniões com estranhos ou em grupos de trabalho? Uma
das grandes causas é o sistema escolar.
Apesar de parecer tão inofensivo enfileirar os alunos um atrás do outro na sala de
aula, esta disposição é lesiva, produz distrações e obstrui a inteligência. O
enfileiramento dos alunos destrói a espontaneidade e a segurança para expor as
idéias. Gera um conflito caracterizado por medo e inibição.
O mecanismo é o seguinte: quando se está num ambiente social, detona-se um
fenômeno inconsciente em frações de segundos, chamado gatilho na memória, que
abre certos arquivos que contêm insegurança e bloqueios, gerando um estresse que
obstrui a leitura de outros arquivos e dificultando a capacidade de pensar.
As grandes teorias educacionais não estudaram os papéis da memória. Por isso,
elas não perceberam que bastam dois anos em que os alunos se sentam
enfileirados na escola para gerar um trauma inconsciente. Um trauma que produz
um grande desconforto para expressar as opiniões em reuniões, falar "não", discutir
dúvidas em sala de aula. Alguns adquirem um medo dramático de receber críticas, e
por isso se calam para sempre. Outros são superpreocupados com o que os outros
pensam e falam a respeito deles. Você tem este trauma?
A escola clássica gera conflitos nos alunos sem perceber. Além de bloquear a
capacidade de argumentar, o enfileira-mento dos alunos coloca combustível na
síndrome do pensamento acelerado, a SPA. O pensamento dos alunos vai a mil por
hora.
Para os adultos já é difícil suportar a fadiga, a ansiedade e a inquietação da SPA.
Agora, imagine para crianças e jovens obrigados a ficar sentados, inertes, e, ainda
por cima, tendo como paisagem à sua frente a nuca dos seus colegas de classe?
Para não explodir de ansiedade, eles tumultuarão o ambiente, terão conversas
paralelas, mexerão com seus amigos. E uma questão de sobrevivência. Não os
culpe. Culpe o sistema.
Como resolver esse problema? Fazendo com que os alunos se sentem em meia lua,
em U ou em duplo círculo. Eles precisam ver o rosto uns dos outros. Por favor,
retirem os alunos da pré-escola à universidade do enfileiramento. Ele fomenta a
inércia intelectual.
Educando com os olhos: os escultores da emoção
Guardem esta frase. A sala de aula não é um exército de pessoas caladas nem um
teatro onde o professor é o único ator e os alunos, espectadores passivos. Todos
são atores da educação. A educação deve ser participativa.
Em minha opinião, um quinto do tempo escolar deveria ser gasto com os alunos
dando aulas na frente da classe. Os professores relaxariam nesse período, e os
alunos se comprometeriam com a educação, desenvolveriam capacidade crítica,
raciocínio esquemático, superariam a fobia social.
Peço aos mestres para darem especial atenção aos alunos tímidos. Eles têm
diversos graus de fobia social, de expressar suas idéias em público. Estamos
fabricando uma massa de jovens tímidos. Os tímidos falam pouco, mas pensam
muito, e às vezes se atormentam com seus pensamentos. Já disse, os tímidos
costumam ser ótimos para os outros, mas péssimos para si mesmos. São éticos e
preocupados com a sociedade, mas não cuidam da sua qualidade de vida.
Os educadores são escultores da emoção. Eduquem olhando nos olhos, eduquem
com gestos: eles falam tanto quanto as palavras. Sentar em forma de U ou em
círculo aquieta o pensamento, melhora a concentração, diminui a ansiedade dos
alunos. O clima da classe fica agradável e a interação social dá um grande salto.
3
Exposição interrogada: a arte da interrogação
Objetivos desta técnica: aliviar a SPA, reacender a motivação, desenvolver o
questionamento, enriquecer a interpretação de textos e enunciados, abrir as janelas
da inteligência.
Todo estresse é negativo? Não! O estresse só é negativo quando é intenso,
bloqueia a inteligência e gera sintomas. Há um tipo de estresse positivo que abre as
janelas da memória e nos estimula a superar obstáculos e resolver dúvidas. Sem
este estresse, nossos sonhos se diluem, nossa motivação se esfacela. A educação
produz o estresse positivo ou negativo? Freqüentemente negativo! Por quê? Devido
à transmissão do conhecimento frio, pronto e sem sabor.
Essa transmissão cria um ambiente sem desafios, aventura e inspiração intelectual.
Educar é provocar a inteligência, é a arte dos desafios. Se um professor não
conseguir provocar a inteligência dos alunos durante sua exposição, ele não o
educou. O que é mais importante na educação: a dúvida ou a resposta? Muitos
pensam que é a resposta. Mas a resposta é uma das maiores armadilhas
intelectuais. Quem determina o tamanho da resposta é o tamanho da dúvida. A
dúvida nos provoca muito mais do que a resposta.
A dúvida é o princípio da sabedoria em filosofia (Durant, 1996). Quanto mais um
cientista, um executivo, um profissional duvidam das suas verdades, questionam o
mundo ao seu redor, mais eles expandem o mundo das idéias e brilham. Os
professores deveriam instigar a mente dos alunos e provocar-lhes a dúvida. Como?
Realizando a exposição interrogada a cada momento. Ao falar sobre o átomo, o
professor deveria interrogar: "Quem nos garante que o átomo existe?", "Como
podemos afirmar que ele é formado de prótons, nêutrons e elétrons?" Os
professores de matemática, de línguas e de história deveriam aprender a questionar
criativamente o conhecimento que expõem. As palavras "Por quê?", "Como?",
"Onde?", "Qual o fundamento disso?" devem fazer parte da sua rotina.
A exposição interrogada gera a dúvida, a dúvida gera o estresse positivo, e este
estresse abre as janelas da inteligência. Assim formamos pensadores, e não
repetidores de informações. A exposição interrogada conquista primeiro o território
da emoção, depois o palco da lógica, e em terceiro lugar, o solo da memória. Os
alunos ficam supermotivados, se tornam questionadores, e não uma massa de
pessoas manipuladas pela mídia e pelo sistema.
A exposição interrogada transforma a informação em conhecimento, e o
conhecimento, em experiência. O melhor professor não é o mais eloqüente, mas o
que mais instiga e estimula a inteligência.
Formando mentes livres
Se os alunos ficam na escola durante quatro anos como meros ouvintes das
informações, eles deixam de ser questionadores do mundo e de si mesmos e se
tornam espectadores passivos. Alguns jovens, neste processo, se tornam arrogantes
e insensíveis, adquirindo ansiedade e traços de psicopatia.
Do que se alimentam intelectualmente psicopatas ou ditadores? De verdades
absolutas. Eles não duvidam, não questionam seus comportamentos inumanos. O
mundo gira em torno das suas verdades. Eles ferem os outros e não sentem a sua
dor. Para que um psicopata se liberte, ele precisa aprender a amar a arte da dúvida,
pois só assim saberá se repensar e se colocar no lugar dos outros.
Os professores devem superar o vício de transmitir o conhecimento pronto, como se
fossem verdades absolutas. Até porque, a cada dez anos, muitas verdades da
ciência se tornam folclore e perdem seu valor.
Treine fazer pelo menos dez interrogações a cada aula. Não pense que isto é tão
simples, pois exige um treinamento de seis meses. A educação emancipa, forma
mentes livres (Adorno, 1971) e não robotizadas e controladas pelo consumismo,
pela paranóia da estética, pela opinião dos outros.
4
Exposição dialogada: a arte da pergunta
Objetivos desta técnica: desenvolver a consciência crítica, promover o debate de
idéias, estimular a educação participativa, superar a insegurança, debelar a timidez,
melhorar a concentração.
Outra ferramenta espetacular para transformar o solo árido da sala de aula num
canteiro de flores é a exposição dialogada, executada pela arte da pergunta. Na
exposição interrogada, o professor questiona o conhecimento sem perguntar, na
exposição dialogada ele faz inúmeras perguntas aos alunos. As duas técnicas se
complementam. Vejamos.
Através da arte da pergunta, o professor estimula mais ainda o estresse positivo da
dúvida. Ele cativa a atenção dos alunos e penetra no território da emoção e no
anfiteatro de suas mentes. O conhecimento pronto estanca o saber e a dúvida
provoca a inteligência (Vigotsky, 1987). Todos os grandes pensadores foram
grandes perguntadores. As grandes respostas emanaram das grandes perguntas.
Em qual época é mais fácil aprender? Na infância! Por quê? Porque ela é a fase em
que mais perguntamos e abrimos as janelas da nossa mente. As crianças aprendem
línguas com facilidade, não apenas porque estão menos entulhadas de informações
na memória, mas porque são perguntadoras, interagem mais. Por que é mais fácil
aprender uma língua diferente no país de origem dessa língua?
O grande motivo é quando se vai para um outro país, se passa vergonha, enfrentase
dificuldades. Nesta hora os diplomas e o status social quase não têm valor. É
preciso quebrar a cara para construir uma rede de relacionamentos e sobreviver.
Para isso, precisamos perder o medo de perguntar. Esta situação nos estressa e
abre de maneira espetacular os arquivos da memória, facilitando o aprendizado.
Quando uma pessoa pára de perguntar, ela pára de aprender, pára de crescer. Em
que época os cientistas produzem suas idéias mais brilhantes? Na maturidade ou
quando ainda são imaturos? Quando imaturos, porque duvidam, se estressam e
perguntam mais. Einstein propôs a teoria da relatividade com 27 anos. Depois que
os cientistas recebem títulos e aplausos, surgem os problemas. Os mesmos títulos e
louvores que os reconhecem podem se tornar o veneno que os mata como
pensadores (Cury, 2002). Muitos se tornam estéreis.
Hoje, meus livros estão sendo publicados em mais de quarenta países. Por ser
pesquisador dos bastidores da mente, estou preocupado, pois mesmo que não
queira eu sei que esse sucesso já causou algum estrago em meu inconsciente.
Preciso estar alerta, me reciclar e me esvaziar continuamente, para continuar sendo
um engenheiro de novas idéias. Você deixou de aprender ou continua um voraz
aprendiz? Muitos não percebem que deixaram de pensar...
Um professor fascinante deve fazer pelo menos dez perguntas para os alunos
durante o tempo de uma aula. Deve primeiro fazer a pergunta para toda a classe. A
pergunta já estressa positivamente os alunos e melhora a concentração. Se
ninguém se atrever a responder, ele deve chamar um aluno pelo nome e perguntarlhe.
Independentemente da resposta, o aluno deve ser elogiado pela sua
participação. Os alunos mais arredios são conquistados com este procedimento.
Viajando para dentro de si mesmos
A arte da pergunta gera pensadores brilhantes nas faculdades de medicina, direito,
engenharia, pedagogia. Mas ela deve ser iniciada na pré-escola. Depois de um ano
da arte da exposição interrogada e dialogada, os alunos perdem o medo de se
expressar, aprendem a discutir as idéias e se tornam grandes viajantes. Como
assim?
Aprendem a viajar para dentro de si mesmos, aprendem a perguntar porque estão
angustiados, ansiosos, irritados, solitários, amedrontados. Aprendem não apenas a
questionar o mundo de fora, mas também a fazer uma mesa-redonda com eles
mesmos.
Quando treino psicólogos para atendimento clínico, sempre lhes falo sobre a
grandeza dessa mesa-redonda interior. Quem é capaz de fazer este autodiálogo
reedita o filme do inconsciente mais rápida e eficientemente.
Não basta um paciente fazer psicoterapia. Ele tem de ser autor da sua história, tem
de aprender a intervir em seu próprio mundo. Mas, infelizmente, raras vezes as
pessoas penetram em seu mundo, mesmo no meio médico. Quando o mundo nos
abandona, a solidão é tolerável, mas quando nós mesmos nos abandonamos, a
solidão é quase insuportável.
A arte da pergunta faz parte da educação dos nossos sonhos. Ela transforma a sala
de aula e a sala da nossa emoção num ambiente poético, agradável, inteligente.
5
Ser contador de histórias
Objetivos desta técnica: desenvolver criatividade, educar a emoção, estimular a
sabedoria, expandir a capacidade de solução em situações de tensão, enriquecer a
socialização.
Educar é contar histórias. Contar histórias é transformar a vida na brincadeira mais
séria da sociedade. A vida tem perdas e problemas, mas deve ser vivida com
otimismo, esperança e alegria. Pais e professores devem dançar a valsa da vida
como contadores de histórias.
O mundo é sério e frio demais. As notícias diárias denunciam crimes, desgraças,
mortes, infortúnios. Toda esta avalanche de notícias ruins é arquivada no mercado
da memória, gerando cadeias de pensamentos que tornam a vida triste, ansiosa e
sem entusiasmo.
Temos de viver com mais suavidade. Aprender a rir das nossas tolices,
comportamentos absurdos, manias, medos. Precisamos contar mais histórias. Os
pais precisam ensinar a seus filhos, criando histórias. Os professores precisam
contar histórias para ensinar as matérias com o tempero da alegria e, às vezes, das
lágrimas.
Para contar histórias é necessário exercitar uma voz flutuante, teatralizada, que
muda de tom durante a exposição. É preciso produzir gestos e reações capazes de
expressar o que as informações lógicas não conseguem. Muitos pais e professores
são dotados de grande cultura acadêmica, mas são engessados, rígidos, formais.
Nem eles se suportam.
Há pessoas que não conseguem contar histórias? Não creio. Dentro de cada ser
humano, mesmo dos mais formais, há um palhaço que quer respirar, brincar e
relaxar. Deixe-o viver. Surpreenda os jovens. Nossos filhos precisam de uma
educação séria, mas também agradável. Abra um sorriso, abrace os jovens, contelhes
histórias.
Gritando dentro do coração, contando histórias suaves
As "estórias" podem resgatar as "histórias". A ficção pode resgatar a realidade.
Como assim? Um professor de história nunca deveria falar da escravidão dos
negros sem resgatar o período histórico. As informações secas sobre a escravidão
não educam, não sensibilizam, não nos conscientizam nem provocam rejeição pelos
crimes que nossa espécie cometeu.
Quando falar dos negros, o professor de História deveria criar histórias para fazer os
alunos entenderem o desespero, os pensamentos, a angústia desses seres
humanos por serem escravizados por membros da sua própria espécie. Nada
melhor do que contar uma história real ou criar uma "estória" para levar os alunos a
vivenciar o drama da escravidão.
Sem esse mergulho interior, a escravidão não gera um sólido impacto emocional.
Não provoca uma rebelião decisiva contra a discriminação. A morte de milhões de
judeus, ciganos e outras minorias não gera comoção, não cria vacinas intelectuais.
Outros "Hitlers" serão produzidos. Falar do conhecimento sem humanizá-lo, sem
resgatar a emoção da história, perpetua nossas misérias e não as cura.
Contar histórias também é psicoterapêutico. Sabe qual a melhor maneira de resolver
conflitos em sala de aula? Não é agredir, dar gritos estridentes ou fazer um sermão.
Estes métodos são usados desde a idade da pedra e não funcionam. Mas contar
histórias. Contar histórias fisga o pensamento, estimula a análise.
Da próxima vez que um aluno ou um filho o agredir, leve-o a pensar. Grite dentro
dele sendo educado, grite com suavidade, conte-lhe uma história. Os jovens
poderão esquecer das suas críticas e regras, mas não esquecerão das suas
histórias.
6
Humanizar o conhecimento
Objetivos desta técnica: estimular a ousadia, promover a perspicácia, cultivar a
criatividade, incentivar a sabedoria, expandir a capacidade crítica, formar
pensadores.
A educação clássica comete outro grande erro. Ela se esforça para transmitir o
conhecimento em sala de aula, mas raramente comenta sobre a vida do produtor do
conhecimento. As informações sobre química, física, matemática, línguas deveriam
ter um rosto, uma identidade. O que significa isso?
Significa humanizar o conhecimento, contar a história dos cientistas que produziram
as idéias que os professores ensinam. Significa também reconstruir o clima
emocional que eles viveram enquanto pesquisavam. Significa ainda relatar a
ansiedade, os erros, as dificuldades e as discriminações que sofreram. Alguns
pensadores morreram por defender suas idéias.
A melhor maneira de produzir pessoas que não pensam é nutri-las com um
conhecimento sem vida, despersonalizado. Sou crítico dos materiais didáticos
belíssimos que expõem o conhecimento mas desprezam a história dos cientistas.
Este tipo de educação causa aversão nos alunos, não provoca a arte de pensar.
Quantas noites de insônia, dificuldades e turbulências eu não passei para produzir
uma nova teoria sobre o funcionamento da mente num país que não tem tradição de
produzir cientistas teóricos! Produzir uma nova teoria é mais complexo do que fazer
centenas de pesquisas. Mas nem todos valorizam esse trabalho.
Quais são meus alicerces intelectuais? Serão os meus sucessos, o reconhecimento
da teoria e seu uso em teses de mestrado e doutorado? Não! Meus alicerces são as
dores que passei, as inseguranças que vivenciei, as angústias que sofri, a
superação do meu caos...
Por trás de cada informação dada com tanta simplicidade em sala de aula existem
as lágrimas, as aventuras e a coragem dos cientistas. Mas os alunos não
conseguem enxergá-las.
É tão importante falar da história da ciência e da história dos pensadores quanto do
conhecimento que eles produziram. A ciência sem rosto paralisa a inteligência,
descaracteriza o ser, o aproxima do nada (Sartre, 1997). Gera homens arrogantes, e
não homens que pensam. Raramente um cientista causou danos à humanidade.
Quem causou os danos foram os que utilizaram a ciência sem consciência crítica.
Paixão pela ciência:
em busca de aventureiros
Como eu produzo conhecimento sobre a forma como construímos pensamentos,
sempre me intrigou observar que um pensador gerava um conjunto de colegas
pensadores na primeira geração e, na segunda, eles escasseavam. Por exemplo,
muitos jovens amigos de Freud tornaram-se pensadores, como Jung e Adler. Depois
da morte de Freud, muitos de seus seguidores se fecharam para novas
possibilidades de pensamentos. Assim, não expandiram mais suas idéias, como fez
a primeira geração, apenas as reproduziram ou repetiram.
Por que ocorre esse fenômeno inconsciente na ciência? Porque a primeira geração
participou da história viva do pensador. Sentiu o calor dos seus desafios, das suas
perseguições e da sua coragem, e por isso também abriu as janelas da sua
inteligência e ousou criar, correr riscos, propor algo novo. A segunda geração não
participou dessa história, por isso endeusou, e não humanizou o pensador.
Claro que há exceções, mas esse mecanismo é universal. Esteve presente na
filosofia, no direito, na física, no sistema político, e até no meio dos líderes
espirituais. Sabe quais são os piores inimigos de uma teoria e de uma ideologia?
São seus defensores radicais. Há muito que falar sobre isso, mas não é o momento.
Diante disso afirmo convictamente que humanizar o conhecimento é fundamental
fará revolucionarmos a educação. Caso contrário, assistiremos a milhares de
congressos de educação que não terão efeito intelectual algum. Os alunos, mesmo
os que fazem mestrado e doutorado, serão no máximo atores coadjuvantes da
evolução da ciência.
Creio que 10 a 20% do tempo de cada aula deveriam ser gastos pelos professores
com o resgate da história dos cientistas. Esta técnica estimula a paixão pelo
conhecimento e produz engenheiros de idéias. Os alunos sairão com um diploma na
mão e uma paixão no coração. Serão aventureiros que enfrentarão e explorarão o
mundo com maestria.
Os jovens sairão do ensino médio e universitário desejando se espelhar em modelos
de empreendedores, tais como cientistas, médicos, juristas, professores, enfim, os
atores que transformam o mundo, e não em modelos fotográficos e artistas que do
dia para a noite ganham os holofotes da mídia. O conhecimento sem rosto e a
indústria fantasiosa do entretenimento têm matado nossos verdadeiros heróis.
7
Humanizar o professor: cruzar sua história
Objetivos desta técnica: desenvolver a socialização, estimular a afetividade,
construir ponte produtiva nas relações sociais, estimular a sabedoria, superar
conflitos, valorizar o "ser".
Antes do século XVI, a educação era normalmente feita por mestres que conviviam
com os jovens. Estes se afastavam dos pais durante a adolescência, aprendiam a
profissão de ferreiros, produtores de vinhos, etc. Muitos pagavam um preço
emocional caríssimo, pois se isolavam dos pais dos 7 aos 14 anos, prejudicando a
relação afetiva com eles.
Quando a escola se difundiu, houve um grande salto emocional, pois, além do
ganho educacional que tinham nas escolas, as crianças retornavam todos os dias
para o convívio com os pais. A afetividade entre eles cresceu. Pais abraçavam seus
filhos diariamente. Palavras como chéri (querido) apareceram na França. Até a
arquitetura das casas mudou. Surgiram os corredores laterais para os estranhos não
invadirem o espaço íntimo da família.
Logo que a escola se difundiu, injetou combustível nas relações sociais. Foi um belo
começo. A família era uma festa. Pais tinham tempo para os filhos, e os filhos
admiravam seus pais. Mas, nos séculos seguintes, as relações se distanciariam
muito. Hoje, pais e filhos mal têm tempo de conversar. E a relação escolar? Está
pior.
Professores e alunos dividem o espaço de uma sala, mas não se conhecem.
Passam anos muito próximos, mas são estranhos uns para os outros. Que tipo de
educação é este que despreza a emoção e nega a história existencial?
Os animais não têm história, pois não percebem que são distintos do mundo, mas o
ser humano percebe essa diferença e por isso constrói uma história e transforma o
mundo (Freire, 1998). As escolas de pedagogia falham por não estimularem seus
professores a se humanizarem em sala de aula. É fundamental humanizar o
conhecimento, e primordial humanizar os mestres.
Os computadores podem informar os alunos, mas apenas os professores são
capazes de formá-los. Somente eles podem estimular a criatividade, a superação de
conflitos, o encanto pela existência, a educação para a paz, para o consumo, para o
exercício dos direitos humanos.
Caros professores, cada um de vocês tem uma fascinante história que contém
lágrimas e alegrias, sonhos e frustrações. Contem essa história em pequenas doses
para seus alunos durante o ano. Não se escondam atrás do giz ou da sua matéria.
Caso contrário, os temas transversais - responsáveis por educar para a vida, como a
educação para a paz, para o consumo, para o trânsito, para a saúde - serão uma
utopia, estarão na lei, mas não no coração.
A educação moderna está em crise, porque não é humanizada, separa o pensador
do conhecimento, o professor da matéria, o aluno da escola, enfim, separa o sujeito
do objeto. Ela tem gerado jovens lógicos, que sabem lidar com números e máquinas,
mas não com dificuldades, conflitos, contradições e desafios. Por isso, raramente
produz executivos e profissionais excelentes, pessoas que saem da mesmice e
fazem a diferença.
As notas baixas têm grande valor na escola da vida
Encontrem algumas janelas dentro da aula para falar por alguns minutos sobre os
problemas, metas, fracassos e sucessos que tiveram na vida. O resultado? Vocês
educarão a emoção. Os seus alunos irão amá-los, vocês serão mestres
inesquecíveis. Eles os identificarão com a matéria que vocês ensinam, terão apreço
por suas aulas.
Ouçam também seus alunos. Penetrem no mundo deles. Descubram quem são. Um
professor influencia mais a personalidade dos alunos pelo que é do que pelo que
sabe.
Caros pais, vocês também possuem uma brilhante história. Como já comentei no
início deste livro, falem de si mesmos, deixem seus filhos descobrirem seu mundo. A
melhor maneira de prepará-los para a vida não é impor regras, fazer críticas, dar
broncas, punir, mas falar dos seus sonhos, sucessos, inseguranças, falhas.
Educadores fascinantes não são infalíveis. Ao contrário, reconhecem erros, mudam
de opinião se forem convencidos, e não enfiam as suas verdades "garganta abaixo"
dos seus filhos e alunos. Estes comportamentos lúcidos são registrados de maneira
excelente pelo fenômeno RAM (registro automático da memória), produzindo um
jardim no mundo consciente e inconsciente dos jovens.
Vejam este exemplo. Jesus Cristo não controlava ninguém, apenas expunha suas
idéias e convidava as pessoas a refletirem, dizendo: "quem tem sede...", "quem
quiser me seguir...". Ele instigava a arte de pensar. Os grandes pacificadores, como
Platão, Buda, Maomé, Gandhi, queriam formar homens livres.
Na escola da vida, as notas baixas nos ajudam mais do que as notas altas. Falhar
pode gerar, em certas situações, uma experiência mais rica do que acertar.
Precisamos falar das nossas vitórias, mas também das nossas frustrações. Há
muitos jovens deprimidos e fóbicos implorando com seus gestos e atitudes que um
professor lhes conte uma história que os ajude.
Certa vez, uma coordenadora pedagógica de uma grande escola, que assistiu a uma
das minhas conferências, motivada pela exposição, levantou-se diante da platéia e
contou uma história comovente. Disse que há alguns meses uma das alunas a
procurara para conversar sobre um problema.
A aluna estava visivelmente abatida, mas a coordenadora disse que não tinha tempo
naquele momento e adiou a conversa para um outro dia. Infelizmente não houve
tempo, pois a jovem tirou sua vida antes. Nunca alguns minutos foram tão
importantes.
Quantos conflitos não serão evitados através de uma educação humanizada! Tenho
convicção de que os professores que lerem este livro e começarem a entrar no
mundo dos seus alunos agressivos, ansiosos ou represados evitarão não apenas
muitos suicídios, mas também massacres em que jovens pegam armas e saem
atirando em seus colegas e professores.
Antes de cometerem esses crimes, os jovens gritaram de diversas maneiras pedindo
ajuda, mas ninguém os ouviu. Clamaram, mas ninguém entendeu a sua mensagem.
Muitas pessoas já me disseram que o diálogo que mantive com elas evitou que
desistissem da vida. Quando nós as ouvimos, elas também se ouvem e encontram
seus caminhos. Mas são muitos os que têm medo de ouvir.
Não pensem que a prevenção de conflitos seja atribuição apenas de psiquiatras e
psicólogos. Até porque é a minoria que procura ajuda psicológica. Os professores
podem fazer muito mais do que imaginam.
Conquistando vantagens competitivas
Por favor, permita-me insistir neste ponto, pois nunca será demais enfatizar. A
educação está errada no mundo todo. As escolas nasceram sem uma compreensão
profunda dos papéis da memória e do processo de construção dos pensamentos.
Embora não tenhamos dados estatísticos, creio, como disse, que pelo menos 90%
das informações que aprendemos em sala de aula nunca serão recordadas.
Abarrotamos a memória e não sabemos o que fazer com tantas informações. A
memória é especialista em sustentar o florescimento de novos pensamentos, a
criatividade da inteligência. Vamos dar menos informações e cruzar mais nossas
histórias.
Há muitas escolas que só se preocupam em preparar os alunos para entrar nas
melhores faculdades. Elas erram por se focarem apenas neste objetivo. Mesmo que
entrem nas melhores escolas, quando saírem, esses alunos poderão ter enormes
dificuldades para dar solução a seus desafios profissionais e pessoais.
O sistema educacional está doente. Ultrapasse o conteúdo programático. Peço aos
mestres: encontrem espaços para humanizar o conhecimento, humanizar sua
história e estimular a arte da dúvida. Seus alunos não só darão um salto intelectual
como terão vantagens competitivas. Quais?
Serão empreendedores, saberão fazer escolhas, correrão riscos para concretizar
suas metas, suportarão os invernos da vida com dignidade. Serão mais saudáveis
emocionalmente. Terão menos possibilidades de desenvolver conflitos e necessitar
de um tratamento psicológico.
8
Educar a auto-estima: elogiar antes de criticar
Objetivos desta técnica: educar a emoção e a auto-estima, vacinar contra a
discriminação, 'promover a solidariedade, resolver conflitos em sala de aula, filtrar
estímulos estressantes, trabalhar perdas e frustrações.
0 elogio alivia as feridas da alma, educa a emoção e a auto-estima. Elogiar é
encorajar e realçar as características positivas. Há pais e professores que nunca
elogiaram seus filhos e alunos.
O meu livro Você é Insubstituível se tornou um grande fenômeno editorial em muitos
países não pela grandeza do escritor, mas porque nele elogio a vida. Conto que
todos nós cometemos loucuras de amor para estarmos vivos. Fomos os maiores
alpinistas e os maiores nadadores do mundo para ganhar a maior disputa da
história, uma disputa com mais de 40 milhões de concorrentes. Que disputa era
essa?
A disputa do espermatozóide para fecundar o óvulo. Foi uma grande aventura.
Muitos jovens dizem que não pediram para nascer. Outros desanimam ante
qualquer problema. Outros ainda acham que nada dá certo na sua vida. Mas todos
nascemos vencedores. Todas as dificuldades atuais são refrescos se comparadas
aos graves riscos que enfrentamos para estarmos vivos no palco da existência. Os
professores
precisam comunicar esta história aos alunos. Ela tem contribuído para gerar uma
sólida auto-estima.
Como ajudar um aluno ou um filho que falhou, agrediu, teve reações inadmissíveis?
Um dos maiores segredos é usar a técnica do elogiar-criticar. Primeiro, elogie
algumas características dele. O elogio estimula o prazer, e o prazer abre as janelas
da memória. Momentos depois, você pode criticá-lo e levá-lo a refletir sobre sua
falha.
Criticar sem antes elogiar obstrui a inteligência, leva o jovem a reagir por instinto,
como um animal ameaçado. O ser humano mais agressivo se derrete diante de um
elogio, e assim fica desarmado para ser ajudado. Muitos assassinatos poderiam ser
evitados se, no primeiro minuto de tensão, a pessoa ameaçada elogiasse o seu
agressor.
Certa vez, um homem de origem alemã cujos avós sofreram trauma de guerra foi ao
meu consultório. Ele era muito agressivo. Dizia que matava qualquer um que
atravessasse seu caminho, inclusive seus filhos. Numa consulta falei algo de que ele
não gostou, e ele tirou uma arma que estava escondida e me ameaçou. Sabe o que
fiz?
Não me intimidei. Fitei seus olhos e o elogiei. Disse-lhe: "Como pode um homem
inteligente precisar de uma arma para expor suas idéias?" E continuei: "O senhor
sabe que tem uma grande capacidade intelectual e que pode através dela conquistar
qualquer pessoa?"
O elogio o surpreendeu. Sua raiva se derreteu como gelo ao sol do meio-dia.
Começou a chorar. A partir desse momento, teve uma excelente evolução em seu
tratamento. Tornou-se um ser humano amável. Se eu não tivesse tido essa conduta
talvez não estivesse aqui escrevendo.
Vacinando contra a discriminação
Experimente elogiar sua esposa, seu marido, seus filhos, seus alunos, seus colegas
de trabalho antes de criticá-los. Sempre há motivos para valorizar. Encontre-os.
Depois de elogiá-los, faça a sua crítica, mas fale uma vez só. Não é a repetição das
palavras críticas que gera o momento educacional, mas seu registro privilegiado. Se
usar essa técnica durante alguns meses, a sua relação social vai se tornar
totalmente diferente. Você será capaz de conquistar as pessoas mais gélidas e
insuportáveis.
Não há jovens problemáticos, mas jovens que estão passando por problemas.
Elogie os jovens tímidos, obesos, discriminados, hiperativos, difíceis, agressivos.
Encoraje aqueles de quem os outros zombam, os que se sentem diminuídos. Ser
educador é ser -promotor de auto-estima.
Se eu pudesse, iria de escola em escola em várias partes do mundo treinando os
professores para compreenderem o funcionamento da mente e entenderem que no
pequeno espaço escolar são desencadeados grandes traumas emocionais. Em vez
dos elogios, existem críticas agressivas. Freqüentemente os alunos machucam
seriamente um ao outro.
Não permita em hipótese alguma que os alunos chamem seus colegas de "baleia"
ou "elefante" por eles serem obesos. Você não imagina o rombo emocional que
esses apelidos provocam no solo do inconsciente. Não lhes permita falarem
pejorativamente dos defeitos físicos e da cor da pele dos outros. Essas brincadeiras
não são ingênuas. Produzem graves conflitos que não se apagam mais, só se
reeditam. Discriminação é um câncer, uma mácula que sempre manchou nossa
história.
Desde cedo ensinei minhas filhas a perceber que por trás
de cada ser humano existe um mundo a ser descoberto. Elas têm aprendido a ser
vacinadas contra a discriminação. Eu sou de origem européia e oriental. Sabe qual é
a cor das duas bonecas das minhas duas filhas mais novas, que têm nove e dez
anos? Negra. Elas dormem felizes com suas bonecas de cor negra, apesar de
sermos brancos. Eu não interferi nessa escolha. Elas aprenderam a amar a vida.
Ensine aos jovens, com palavras e sobretudo atitudes, a amar a espécie humana.
Comente que, acima de sermos americanos, árabes, judeus, brancos, negros, ricos
e pobres, somos uma espécie fascinante. Nos bastidores da nossa inteligência
somos mais iguais do que imaginamos. Elogie a vida. Leve os jovens a sonhar. Se
eles deixarem de acreditar na vida, não haverá futuro.
9
Gerenciar os pensamentos e as emoções
Objetivos desta técnica: resgatar a liderança do eu, resolver a SPA, prevenir
conflitos, proteger os solos da memória, promover a segurança, desenvolver espírito
empreendedor, proteger a emoção nos focos de tensão.
Certa vez uma estudante de engenharia me procurou queixando-se de depressão.
Ela passara por sete psiquiatras e tinha tomado quase todos os tipos de
antidepressivos. Estava desanimada. A vida não tinha cor. A esperança se dissipara.
A dor da depressão, que é o último estágio do sofrimento humano, roubara-lhe o
sentido da vida. Fiquei comovido com sua falência emocional.
Disse-lhe que ela não deveria se conformar em ser uma doente. Ela poderia virar o
jogo. O resgate da liderança do seu eu seria capaz de potencializar o efeito dos
medicamentos e resgatar seu encanto pela vida. Afirmei que ela tinha dentro de si
ferramentas que estavam subutilizadas. Comentei que, apesar de importante, a
medicação era um ator coadjuvante do tratamento. Quem é o ator principal? O
gerenciamento dos pensamentos negativos e das emoções angustiantes.
Ela aprendeu que todo o lixo que passava pelo palco da sua mente era registrado
automaticamente na memória e não podia mais ser deletado, apenas reeditado.
Compreendeu que devia não apenas entender as mazelas do seu passado para
fazer essa reedição, mas também criticar cada pensamento negativo e cada emoção
perturbadora.
Assim, a jovem frágil pouco a pouco deixou de ser vítima dos seus problemas e
começou a reescrever a sua história e a contemplar o belo. As flores apareceram
depois do longo e insuportável inverno. Ficou mais bonita. Todos que passam pelo
caos da depressão, do pânico, das fobias, das perdas, e o superam, ficam mais
bonitos interiormente.
A autocomiseração, o conformismo, a falta de garra para lutar são sérios obstáculos
à superação de um transtorno emocional. O gerenciamento dos pensamentos é o
ponto central do tratamento psicoterapêutico de qualquer corrente de pensamento.
Entretanto, precisamos também entender que este gerenciamento é o ponto central
da educação, apesar de a ciência pouco compreender este assunto.
Se os jovens não aprenderem a gerenciar seus pensamentos, serão um barco sem
leme, marionetes dos seus problemas. A tarefa mais importante da educação é
transformar o ser humano em líder de si mesmo, líder dos seus pensamentos e
emoções.
As escolas em todo o mundo ensinam os alunos a dirigir empresas e máquinas, mas
não os preparam para ser diretores do script dos seus pensamentos. E incontável a
quantidade de pessoas que têm sucesso profissional mas são escravas de seus
pensamentos. Sua vida emocional é miserável. Enfrentam o mundo, mas não sabem
remover o entulho da sua mente.
Tenho tratado de médicos, advogados, empresários, que são inteligentes para lidar
com problemas objetivos. No entanto, uma ofensa os derrota, uma crítica os destrói,
uma decepção com seus íntimos provoca neles grande ansiedade.
São fortes no mundo externo, mas frágeis líderes nos solos da sua psique.
Libertando-se do cárcere intelectual
Os professores fascinantes devem ajudar seus alunos a se libertar do cárcere
intelectual. Como? Independentemente da matéria que ensinam, devem mostrar,
pelo menos uma vez por semana, que eles podem e devem gerenciar seus
pensamentos e emoções.
Seja contando histórias ou falando diretamente, os professores devem comentar
que, se o eu que representa a vontade consciente não for líder dos pensamentos,
ele será comandado. Não há dois senhores. Devem comentar que o ser humano
tem tendência a ser carrasco de si mesmo. Precisam enfatizar que nossos piores
inimigos estão dentro de nós. Só nós mesmos podemos nos impedir de sermos
felizes e saudáveis.
Da mesma maneira, os pais precisam ensinar suas crianças e adolescentes a
criticar suas próprias idéias negativas, a virar a mesa contra seus medos, a enfrentar
as suas mágoas e timidez. Na minha opinião, gerenciar os pensamentos é uma das
mais importantes descobertas da ciência atual, e com grande aplicabilidade na
educação e na psicologia. Mas a educação, as escolas de pedagogia e as
faculdades de psicologia ainda dormitam nessa área. Somos especialistas em
formar pessoas passivas.
De que adianta aprender a equacionar problemas de matemática se nossos jovens
não aprenderem a resolver os problemas da vida, de que adianta aprender línguas
se não souberem falar de si mesmos?
Já é tempo de produzirmos autores e não vitimas da própria história. Já é tempo de
prevenirmos doenças emocionais entre os jovens, em vez de esperar para tratá-las
depois que elas afloram. Os jovens precisam de uma educação surpreendente.
10
Participar de projetos sociais
Objetivos desta técnica: desenvolver a responsabilidade social, promover a
cidadania, cultivar a solidariedade, expandir a capacidade de trabalhar em equipe,
trabalhar os temas transversais: a educação para a saúde, para a paz, para os
direitos humanos.
Levar os jovens a se comprometer com projetos sociais é a décima técnica
pedagógica que proponho. O compromisso social deve ser a grande meta da
educação. Sem ele, o individualismo, o egoísmo e o controle de uns sobre os outros
crescerão.
Participar de campanhas de prevenção contra a AIDS, drogas, violência, combate à
fome pode contribuir para que os jovens sejam saudáveis psíquica e socialmente.
Como vimos, eles amam o veneno do consumismo e do prazer imediato. Muitos só
se importam consigo mesmos. Mas, reitero, eles não são culpados. Há milhões de
imagens gravadas na sua memória consciente e inconsciente que os controlam sem
que percebam.
Na realidade todos somos vítimas do sistema que criamos. Estamos cada vez mais
perdendo nossa identidade, nos tornando uma conta bancária, um número de cartão
de crédito, um consumidor em potencial. A minha crítica tem fundamento. O sistema
social infiltra-se na caixa de segredos da personalidade, escasseando a produção de
pensamentos singelos, tranqüilos, serenos.
Em pesquisa que realizei com cerca de mil educadores sobre a opinião deles
relativa à qualidade de vida dos jovens, os resultados foram espantosos. Eles
consideram que 94% dos jovens estão agressivos e 6%, tranqüilos; 95% estão
alienados e 4% se preocupam com seu futuro. Para onde caminha a educação?
Jovens que fazem a diferença
Os jovens que são determinados, criativos e empreendedores sobreviverão no
sistema competitivo. Os que não têm metas nem ousadia para materializar seus
projetos poderão viver à sombra dos pais e engrossar a massa de desempregados.
Jovens desqualificados intelectualmente prejudicam o futuro de uma nação. Por que
a riqueza das nações sobe e desce? Por que as riquezas familiares não duram até a
terceira geração? Por causa do material humano.
Precisamos qualificar nossos filhos e alunos. Eles devem sentir-se importantes na
escola, precisam participar de certas decisões. Devem também participar das
decisões familiares, como a compra do carro, o roteiro das viagens, a ida a
restaurantes, e até no orçamento familiar. Precisam aprender a fazer escolhas.
Assim aprenderão uma dura lição: toda escolha implica perdas e ganhos.
A síndrome SPA deixa nossos filhos agitados. Elas detestam rotina, e por isso
reclamam que "não têm nada para fazer". Eles têm muito para fazer, mas a rotina
exaspera a ansiedade. Se os engajarmos em projetos sociais, suas vidas darão uma
guinada. A emoção deles será estruturada, o pensamento, aquietado, e de quebra
aprenderão a importância de servir.
Como poderão subir no pódio se desprezam o treinamento? Como brilharão na
sociedade se não têm conexão com ela? Considerar nossos filhos e alunos apenas
como receptores de informações e consumidores de bens materiais é uma afronta à
inteligência deles.
Precisamos formar jovens que façam a diferença no mundo, que proponham
mudanças, que resgatem seu sentido existencial e o sentido das coisas (Ricoeur,
1960). Uma das causas que levam milhões de jovens a usar drogas, a ter depressão
e a ser alienados é que eles não têm sentido de vida, nem engajamento social.
O tédio os consome. Por isso, numa atitude insana, eles partem para o uso de
drogas, como tentativa de aliviar sua ansiedade e tristeza, e não apenas para saciar
sua curiosidade. Muitos jovens usam drogas como antidepressivos e tranqüilizantes.
Infelizmente, esta atitude os levam a viver na mais dramática prisão: o cárcere da
emoção.
Aplicação das técnicas do projeto escola da vida
Não podemos nos esquecer que os professores do mundo todo estão adoecendo
coletivamente. Os professores são cozinheiros do conhecimento, mas preparam o
alimento para uma platéia sem apetite. Qualquer mãe fica um pouco paranóica
quando seus filhos não se alimentam. Como exigir saúde dos professores se seus
alunos têm anorexia intelectual? É por causa da saúde deles e de seus alunos que a
educação tem de ser reconstruída.
As escolas que já aplicam as técnicas psicossociais do projeto escola da vida estão
assistindo a algo maravilhoso. O estresse dos professores e os gritos implorando
silêncio diminuíram. Os níveis de ansiedade, as conversas paralelas e os atritos
entre os alunos atenuaram-se. Cresceram a concentração, o prazer de aprender e a
participação.
Uma diretora de uma escola pública me pediu ansiosamente ajuda. Ela chamava
com freqüência o policiamento para conter a agressividade entre os alunos.
Comovido, treinei os professores. Eles aplicaram todas essas técnicas durante um
ano. O resultado? Além de todos os ganhos intelectuais que já citei, não foi mais
necessário chamar a polícia. Os gritos cessaram, os alunos se acalmaram, o
respeito surgiu.
Nessa escola pública só há o ensino fundamental. Quando os alunos entraram em
outra escola para cursar o ensino médio, os professores ficaram impressionados
com a tranqüilidade deles. Tornaram-se poetas da vida.
Diante de mudanças tão grandes, a diretora me disse: "Não acredito no que
aconteceu na minha escola." Não fiz muito, os professores é que merecem todos os
aplausos. Talvez esta seja uma das raríssimas experiências mundiais de mudanças
significativas na dinâmica da personalidade e no processo educacional com a
aplicação de técnicas psicopedagógicas. O melhor de tudo é que a aplicação dessas
técnicas não envolve dinheiro. Ela gera a escola dos nossos sonhos.
Qual é a escola dos seus sonhos? Para mim, é a escola que educa os jovens para
extraírem força da fragilidade, segurança da terra do medo, esperança da
desolação, sorriso das lágrimas e sabedoria dos fracassos.
A escola dos meus sonhos une a seriedade de um executivo à alegria de um
palhaço, a força da lógica à singeleza do amor. Na escola dos meus sonhos cada
criança é uma jóia única no teatro da existência, mais importante que todo o dinheiro
do mundo. Nela, os professores e os alunos escrevem uma belíssima história, são
jardineiros que fazem da sala de aula um canteiro de sonhos.
Qual é a família dos seus sonhos? A família dos meus sonhos não é perfeita. Não
tem pais infalíveis, nem filhos que não causam frustrações. É aquela em que pais e
filhos têm coragem de dizer um para o outro: "Eu te amo", "Eu exagerei",
"Desculpem-me", "Vocês são importantes para mim".
Na família dos meus sonhos não há heróis nem gigantes, mas amigos. Amigos que
sonham, amam e choram juntos. Nela, os pais dão risadas quando perdem a
paciência e os filhos debocham da própria teimosia. A família dos meus sonhos é
uma festa. Um lugar simples, mas onde há gente feliz.
PARTE 6
A HISTÓRIA DA GRANDE TORRE
Se o teu sol é verdadeiro, não tenha medo das nuvens que o encobrem, pois um dia
elas se dissiparão e o brilho do sol voltará...
Quais são os profissionais mais importantes da sociedade?
Para finalizar este livro, contarei uma história que revela a perigosa direção para
onde a sociedade está caminhando, a crise da educação e a importância dos pais e
dos professores como construtores de um mundo melhor. Tenho contado essa
história em muitas conferências, inclusive em congressos internacionais. Muitos
educadores ficam tão sensibilizados que vão às lágrimas.
Num tempo não muito distante do nosso, a humanidade ficou tão caótica que os
homens fizeram um grande concurso. Eles queriam saber qual a profissão mais
importante da sociedade. Os organizadores do evento construíram uma grande torre
dentro de um enorme estádio com degraus de ouro, cravejados de pedras preciosas.
A torre era belíssima. Chamaram a imprensa mundial, a TV, os jornais, as revistas e
as rádios para realizarem a cobertura.
O mundo estava plugado no evento. No estádio, pessoas de todas as classes
sociais se espremiam para ver a disputa de perto. As regras eram as seguintes:
cada profissão era representada por um ilustre orador. O orador deveria subir
rapidamente num degrau da torre e fazer um discurso eloqüente e convincente
sobre os motivos pelos quais sua profissão era a mais importante da sociedade
moderna. O orador tinha de permanecer na torre até o final da disputa. A votação
era mundial e pela Internet.
Nações e grandes empresas patrocinavam a disputa. A categoria vencedora
receberia prestígio social, uma grande soma em dinheiro e subsídios do governo.
Estabelecidas as regras, a disputa começou. O mediador do concurso bradou: "O
espaço está aberto!"
Sabem quem subiu primeiro na torre? Os educadores? Não! O representante da
minha classe, a dos psiquiatras.
Ele subiu na torre e a plenos pulmões proclamou: "As sociedades modernas se
tornarão uma fábrica de estresse. A depressão e a ansiedade são as doenças do
século. As pessoas perderam o encanto pela existência. Muitas desistem de viver. A
indústria dos antidepressivos e dos tranqüilizantes se tornou a mais importante do
mundo." Em seguida, o orador fez uma pausa. O público, pasmo, ouvia atentamente
seus argumentos contundentes.
O representante dos psiquiatras concluiu: "O normal é ter conflitos, e o anormal é ser
saudável. O que seria da humanidade sem os psiquiatras? Um albergue de seres
humanos sem qualidade de vida! Por vivermos numa sociedade doentia, declaro que
somos, juntamente com os psicólogos clínicos, os profissionais mais importantes da
sociedade!"
No estádio reinou um silêncio. Muitos na platéia olharam para si mesmos e
perceberam que não eram alegres, estavam estressados, dormiam mal, acordavam
cansados, tinham uma mente agitada, dores de cabeça. Milhões de espectadores
ficaram com a voz embargada. Os psiquiatras pareciam imbatíveis.
Em seguida, o mediador bradou: "O espaço está aberto!" Sabem quem subiu
depois? Os professores? Não! O representante dos magistrados - os juizes de
direito.
Ele subiu num degrau mais alto e num gesto de ousadia desferiu palavras que
abalaram os ouvintes: "Observem os índices de violência! Eles não param de
aumentar. Os seqüestros, assaltos e a violência no trânsito enchem as páginas dos
jornais. A agressividade nas escolas, os maus-tratos infantis, a discriminação racial
e social fazem parte da nossa rotina. Os homens amam seus direitos e desprezam
seus deveres."
Os ouvintes menearam a cabeça, concordando com os argumentos. Em seguida, o
representante dos magistrados foi mais contundente: "O tráfico de drogas
movimenta tanto o dinheiro como o petróleo. Não há como extirpar o crime
organizado. Se vocês querem segurança, aprisionem-se dentro de suas casas, pois
a liberdade pertence aos criminosos. Sem os juizes e os promotores, a sociedade se
esfacela. Por isso, declaro, com o apoio dos promotores e do aparelho policial, que
representamos a classe mais importante da sociedade."
Todos engoliram em seco essas palavras. Elas perturbavam os ouvidos e
queimavam na alma. Mas pareciam incontestáveis. Outro momento de silêncio,
agora mais prolongado. Em seguida, o mediador, já suando frio, disse: "O espaço
está novamente aberto!"
Um outro representante mais intrépido subiu num degrau mais alto da torre. Sabem
quem foi desta vez? Os educadores? Não!
Foi o representante das forças armadas. Com uma voz vibrante e sem delongas, ele
discursou: "Os homens desprezam o valor da vida. Eles se matam por muito pouco.
O terrorismo elimina milhares de pessoas. A guerra comercial mata milhões de
fome. A espécie humana se esfacelou em dezenas de tribos. As nações só se
respeitam pela economia e pelas armas que possuem. Quem quiser a paz tem de se
preparar para a guerra. Os poderes econômico e bélico, e não o diálogo, são os
fatores de equilíbrio num mundo espúrio."
Suas palavras chocaram os ouvintes, mas eram inquestionáveis. Em seguida, ele
concluiu: "Sem as forças armadas, não haveria segurança. O sono seria um
pesadelo. Por isso, declaro, quer se aceite ou não, que os homens das forças
armadas não são apenas a classe profissional mais importante, mas também a mais
poderosa." A alma dos ouvintes gelou. Todos ficaram atônitos.
Os argumentos dos três oradores eram fortíssimos. A sociedade tinha se tornado um
caos. As pessoas do mundo todo, perplexas, não sabiam qual atitude tomar: se
aclamavam um orador, ou se choravam pela crise da espécie humana, que não
honrou sua capacidade de pensar.
Ninguém mais ousou subir na torre. Em quem votariam?
Quando todos pensavam que a disputa havia se encerrado, ouviu-se uma conversa
no sopé da torre. De quem se tratava? Desta vez eram os professores. Havia um
grupo deles da pré-escola, do ensino fundamental, do médio e do universitário. Eles
estavam encostados na torre dialogando com um grupo de pais. Ninguém sabia o
que estavam fazendo. A TV os focalizou e projetou num telão. O mediador gritou
para um deles subir na torre. Eles se recusaram.
O mediador os provocou: "Sempre há covardes numa disputa." Houve risos no
estádio. Fizeram chacota dos professores e dos pais.
Quando todos pensavam que eles eram frágeis, os professores, com o incentivo dos
pais, começaram a debater as idéias, permanecendo no mesmo lugar. Todos se
faziam representar.
Um dos professores, olhando para o alto, disse para o representante dos
psiquiatras: "Nós não queremos ser mais importantes do que vocês. Apenas
queremos ter condições para educar a emoção dos nossos alunos, formar jovens
livres e felizes, para que eles não adoeçam e sejam tratados por vocês."
O representante dos psiquiatras recebeu um golpe na alma.
Em seguida, um outro professor que estava no lado direito da torre olhou para o
representante dos magistrados e disse: "Jamais tivemos a pretensão de ser mais
importantes do que os juizes. Desejamos apenas ter condições para lapidar a
inteligência dos nossos jovens, fazendo-os amar a arte de pensar e aprender a
grandeza dos direitos e dos deveres humanos. Assim, esperamos que jamais se
sentem num banco dos réus." O representante dos magistrados tremeu na torre.
Uma professora do lado esquerdo da torre, aparentemente tímida, encarou o
representante das forças armadas e falou poeticamente: "Os professores do mundo
todo nunca desejaram ser mais poderosos nem mais importantes do que os
membros das forças armadas. Desejamos apenas ser importantes no coração das
nossas crianças. Almejamos levá-las a compreender que cada ser humano não é
mais um número na multidão, mas um ser insubstituível, um ator único no teatro da
existência."
A professora fez uma pausa e completou: "Assim, eles se apaixonarão pela vida, e,
quando estiverem no controle da sociedade, jamais farão guerras, sejam guerras
físicas que retiram o sangue, sejam as comerciais que retiram o pão. Pois cremos
que os fracos usam a força, mas os fortes usam o diálogo para resolver seus
conflitos. Cremos ainda que a vida é obra-prima de Deus, um espetáculo que jamais
deve ser interrompido pela violência humana."
Os pais deliraram de alegria com essas palavras. Mas o representante do judiciário
quase caiu da torre.
Não se ouvia um zumbido na platéia. O mundo ficou perplexo. As pessoas não
imaginavam que os simples professores que viviam no pequeno mundo das salas de
aula fossem tão sábios. O discurso dos professores abalou os líderes do evento.
Vendo ameaçado o êxito da disputa, o mediador do evento disse arrogantemente:
"Sonhadores! Vocês vivem fora da realidade!" Um professor destemido bradou com
sensibilidade: "Se deixarmos de sonhar, morreremos!"
Sentindo-se questionado, o organizador do evento pegou o microfone e foi mais
longe na intenção de ferir os professores: "Quem se importa com os professores na
atualidade? Comparem-se com outras profissões. Vocês não participam das mais
importantes reuniões políticas. A imprensa raramente os noticia. A sociedade pouco
se importa com a escola. Olhem para o salário que vocês recebem no final do mês!"
Uma professora fitou-o e disse-lhe com segurança: "Não trabalhamos apenas pelo
salário, mas pelo amor dos seus filhos e de todos os jovens do mundo."
Irado, o líder do evento gritou: "Sua profissão será extinta nas sociedades modernas.
Os computadores os estão substituindo! Vocês são indignos de estar nesta disputa.'
A platéia, manipulada, mudou de lado. Condenaram os professores. Exaltaram a
educação virtual. Gritaram em coro: "Computadores! Computadores! Fim dos
professores!" O estádio entrou em delírio repetindo esta frase. Sepultaram os
mestres. Os professores nunca haviam sido tão humilhados. Golpeados por essas
palavras, resolveram abandonar a torre. Sabem o que aconteceu?
A torre desabou. Ninguém imaginava, mas eram os professores e os pais que
estavam segurando a torre. A cena foi chocante. Os oradores foram hospitalizados.
Os professores tomaram então outra atitude inimaginável: abandonaram, pela
primeira vez, as salas de aula.
Tentaram substituí-los por computadores, dando uma máquina para cada aluno.
Usaram as melhores técnicas de multimídia. Sabem o que ocorreu?
A sociedade desabou. As injustiças e as misérias da alma aumentaram mais ainda.
A dor e as lágrimas se expandiram. O cárcere da depressão, do medo e da
ansiedade atingiu grande parte da população. A violência e os crimes se
multiplicaram. A convivência humana, que já estava difícil, ficou intolerável. A
espécie humana gemeu de dor. Corria o risco de não sobreviver...
Estarrecidos, todos entenderam que os computadores não conseguiam ensinar a
sabedoria, a solidariedade e o amor pela vida. O público nunca pensara que os
professores fossem os alicerces das profissões e o sustentáculo do que é mais
lúcido e inteligente entre nós. Descobriu-se que o pouco de luz que entrava na
sociedade vinha do coração dos professores e dos pais que arduamente educavam
seus filhos.
Todos entenderam que a sociedade vivia uma longa e nebulosa noite. A ciência, a
política e o dinheiro não conseguiam superá-la. Perceberam que a esperança de um
belo amanhecer repousa sobre cada pai, cada mãe e cada professor, e não sobre os
psiquiatras, o judiciário, os militares, a imprensa...
Não importa se os pais moram num palácio ou numa favela, e se os professores dão
aulas numa escola suntuosa ou pobre - eles são a esperança do mundo.
Diante disso, os políticos, os representantes das classes profissionais e os
empresários fizeram uma reunião com os professores em cada cidade de cada
nação. Reconheceram que tinham cometido um crime contra a educação. Pediram
desculpas e rogaram para que eles não abandonassem seus filhos.
Em seguida, fizeram uma grande promessa. Afirmaram que a metade do orçamento
que gastavam com armas, com o aparato policial e com a indústria dos
tranqüilizantes e dos antidepressivos seria investida na educação. Prometeram
resgatar a dignidade dos professores, e dar condições para que cada criança da
Terra fosse nutrida com alimentos no seu corpo e com o conhecimento na sua alma.
Nenhuma delas ficaria mais sem escola.
Os professores choraram. Ficaram comovidos com tal promessa. Há séculos eles
esperavam que a sociedade acordasse para o drama da educação. Infelizmente, a
sociedade só acordou quando as misérias sociais atingiram patamares
insuportáveis.
Mas, como sempre trabalharam como heróis anônimos e sempre foram apaixonados
por cada criança, cada adolescente e cada jovem, os professores resolveram voltar
para a sala de aula e ensinar cada aluno a navegar nas águas da emoção.
Pela primeira vez, a sociedade colocou a educação no centro das suas atenções. A
luz começou a brilhar depois da longa tempestade... No final de dez anos os
resultados apareceram, e depois de vinte anos todos ficaram boquiabertos.
Os jovens não desistiam mais da vida. Não havia mais suicídios. O uso de drogas
dissipou-se. Quase não se ouvia falar mais de transtornos psíquicos e de violência.
E a discriminação? O que é isso? Ninguém se lembrava mais do seu significado. Os
brancos abraçavam afetivamente os negros. As crianças judias dormiam na casa
das crianças palestinas. O medo se dissolveu, o terrorismo desapareceu, o amor
triunfou.
Os presídios se tornaram museus. Os policiais se tornaram poetas. Os consultórios
de psiquiatria se esvaziaram. Os psiquiatras se tornaram escritores. Os juizes se
tornaram músicos. Os promotores se tornaram filósofos. E os generais?
Descobriram o perfume das flores, aprenderam a sujar suas mãos para cultivá-las.
E os jornais e as TVs do mundo? O que noticiavam, o que vendiam? Deixaram de
vender mazelas e lágrimas humanas. Vendiam sonhos, anunciavam a esperança...
Quando esta história se tornará realidade? Se todos sonharmos este sonho, um dia
ele deixará de ser apenas um sonho.
A editora e o autor permitem o uso do texto da "grande torre" para encenação teatral
nas escolas, com o objetivo de homenagear os pais e os mestres, desde que citada
a fonte (N.A.).
Considerações finais
Enquanto escrevia o final deste livro tive o desejo de reunir alguns dos professores
do passado, fazer um jantar para eles e agradecer-lhes. Também fiquei motivado a
reunir meus pais fora de datas comemorativas e dizer-lhes o quanto eles foram
importantes para mim. Se você tiver um desejo semelhante, faça o mesmo. Se não
valorizamos as nossas raízes, não temos como suportar as intempéries da vida.
O poético sonho do resgate do valor da educação, esculpido pela história da grande
torre, ainda é uma miragem no deserto social. Enquanto a sociedade ainda não
acorda, gostaria de terminar este livro prestando uma homenagem aos pais e aos
professores. Esta homenagem só não é mais eloqüente devido às minhas
limitações.
Homenagem aos professores
Em nome de todos os alunos do mundo, queremos agradecer todo o amor com que
trataram até hoje a educação. Muitos de vocês gastaram os melhores anos de sua
vida, alguns até adoeceram, nessa árdua tarefa.
O sistema social não os valoriza na proporção da sua grandeza, mas tenham a
certeza de que, sem vocês, a sociedade não tem horizonte, nossas noites não têm
estrelas, nossa alma não tem saúde, nossa emoção não tem alegria.
Agradecemos seu amor, sabedoria, lágrimas, criatividade, perspicácia, dentro e fora
da sala de aula. O mundo pode não os aplaudir, mas o conhecimento mais lúcido da
ciência tem de reconhecer que vocês são os profissionais mais importantes da
sociedade.
Professores, muito obrigado. Vocês são mestres da vida.
Homenagem aos pais
Em nome de todos os filhos do mundo, agradeço a todos os pais por tudo o que
fizeram por nós. Obrigado pelos seus conselhos, carinho, broncas, beijos. O amor os
levou a correr todos os riscos do mundo por nossa causa. Vocês não deram tudo o
que queriam para cada filho, mas deram tudo o que tinham.
Vocês deixaram seus sonhos para que pudéssemos sonhar. Deixaram seu lazer
para que tivéssemos alegria. Perderam noites de sono para que dormíssemos
tranqüilos. Derramaram lágrimas para que fôssemos felizes. Perdoem-nos pelas
falhas e principalmente por não reconhecermos seu imenso valor. Ensinem-nos a
sermos seus amigos...
Nossa dívida é impagável. Nós lhes devemos o amor...
Queridos pais e professores, o tempo pode passar e nos distanciar, mas jamais se
esqueçam de que ninguém morre quando se vive no coração de alguém. Levaremos
por toda a nossa história um pedaço do seu ser dentro do nosso próprio ser.
FIM
Referências bibliográficas
ADORNO, T. Educação e Emancipação. Rio de Janeiro. Paz e Terra. 1971.
CURY, Augusto. Inteligência Multifocal, São Paulo, Cultrix, 1998.
. Revolucione Sua Qualidade de Vida, Sextante, 2002
. Análise da Inteligência de Cristo. Academia de Inteligência, São Paulo,
2000.
DURANT, Will. História da Filosofia. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1996.
GARDNER, Howard. Inteligências Múltiplias. Porto Alegre, Artes Médicas, 1995.
GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional. Rio de Janeiro, Objetiva, 1996.
FOUCAULT, Michel. A Doença e a Existência in Doença Mental e Psicologia. Rio de
Janeiro, Folha Carioca, 1998.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa.
7.J ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.
FREUD, Sigmund. Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro, Imago,
1969.
NIETZSCHE, F. Humano Demasiado Humano. Lisboa, Relógio
D'Água, 1997.
PIAGET, Jean. Biologia e Conhecimento. 2.ª ed. Vozes, Petrópolis,
1996.
PLATÃO. "República. Livro VII", in Obras Completas, edição bilíngüe. Les Belles
Lettres, Paris. 1985.
RICOEUR, P. L'homme falible. Paris, Seuil, 1960.
SARTRE, Jean-Paul. O Ser e o Nada. Ensaio de Antologia. Petrópolis, Vozes, 1997.
VIGOTSKY, L. A Formação Social da Mente. São Paulo, Martins Fontes, 1987.
Sobre o autor
Augusto Jorge Cury é psiquiatra, cientista e autor de Inteligência Multifocal (Editora
Cultrix), Treinando a Emoção fará Ser Feliz e a coleção Análise da Inteligência de
Cristo, publicados pela Editora Academia de Inteligência.
É também autor de Você É Insubstituível, Dez Leis para Ser Feliz e Revolucione Sua
Qualidade de Vida, publicados pela Sextante.
Pós-graduado em Psicologia Social, com pesquisa na Espanha na área de Ciências
da Educação, é fundador da Academia de Inteligência, um instituto que promove
seminários, cursos e treinamento sobre qualidade de vida e desenvolvimento da
inteligência lógica, emocional e multifocal para empresas, profissionais liberais,
educadores, psicólogos e público em geral.
Para entrar em contato com o autor, escreva para:
jcury@mdbrasil.com.br
Para maiores informações sobre o seu trabalho: Academia de Inteligência
Tel.: (17)3341-8212
E-mail: academiaint@mdbrasil.com.br
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Rio de Janeiro : Sextante. 2003
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Emoções nas crianças. 5. Inteligência. 6. Psicologia infantil. 7. Psicologia do
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